Querido Leonard Nimoy, como vai à morte?
Antes de tudo, permita dizer que sofro de um problema grave: só consigo escrever textos para algo que tenho forte atração ou então que me passe um pouco de emoção. Como comunicador, sei que isso é um grande empecilho para a carreira de trabalho, mas essa ainda não é a minha maior preocupação. Então, essa carta não é mais uma “obrigação” semanal de escrever para alguém famoso e sim, um enorme prazer de poder de alguma forma me comunicar com alguém que fez parte de algo que sempre esteve comigo, que me fez viajar, acreditar que um mundo onde as pessoas soubessem lidar com a diferença e acima de tudo, usufruísse da racionalidade ao seu favor. Star Trek é a minha ficção cientifica favorita e é uma das minhas grandes conexões com a criança que ainda existe em mim.
Pense então como foi difícil decidir em escolher entre mandar uma carta ao personagem Spock ou então para o criador. Foram algumas horas tentando decidir. Por sorte eu pude passar essas horas de forma muito bem aproveitadas: assistindo o documentário sobre a sua vida, For The Love of Spock. O que a principio foi usado como um otimizador de tempo, no fim das contas me ajudou a notar que eu precisava falar de você antes de qualquer coisa. Você era a alma e a mente do Spock, mas também era a alma de muitas outras ideias.
Spock sempre foi um alivio para mim e tenho certeza que para muitos. Ele era aquele alien que se sentia um forasteiro entre todos na nave (ainda mais por ser um dos últimos de sua raça) e muitos se sentem ou já se sentiram assim, como se não soubessem a qual grupo pertenciam, se pertenciam a um grupo ou se estavam fadados a viver como forasteiros a vida inteira. De qualquer forma, mesmo que de uma maneira muito simples, ele inspirava a todos, pois mostrava que nem sempre isso realmente era um problema e que dentro desse sentimento forasteiro podia se tirar muita força para comandar o mundo a sua volta. Spock era a prova que se não pertencíamos a um mundo exato, poderíamos construir um novo a nossa volta.
Por mais que isso soe como um clichê nerd, isso por muito tempo representou muita coisa para mim e tenho certeza que todos que conseguiram ver a verdadeira face da série e do seu personagem, por trás das diversas camadas, comerciais, de ficção cientifica, poderia notar que Star Trek não era só sobre viajantes do espaço, era sobre a humanidade, era sobre respeitar as diferenças e saber conversar. Isso com certeza está comigo.
Mas afinal, porque eu deveria estar fazendo algum tipo de agradecimento ao criador de um personagem da ficção cientifica? Bom, sou o maior defensor de que a conexão que esses personagens muito bem construídos da ficção ou fantasia, podem ajudar na criação e descoberta do mundo a um jovem, como eu era. Essa primeira conexão com algum personagem é inevitável, em algum momento vamos assistir algo que vai nos fazer acender aquela chama interior que nos dá um caminho de onde podemos seguir e o que podemos descobrir. E quando estamos falando de um personagem que ensina sobre diversidade, sobre raciocinar e saber abrir uma discussão saudável (Spock não utilizar da violência foi algo que me impactou muito também) é uma porta enorme para estruturar um bom ser humano e acima de tudo, seguir um caminho em busca de mais sobre o incrível mundo da ficção cientifica.
Mas assistindo esse lindo documentário, percebi que havia vida além daquele serzinho de orelhas pontudas que controlava suas emoções, havia um ator multi talentoso que controlava os seus sonhos e os tornava reais. Alguém que começou da forma clichê, do nada, trabalhando muito e que quando alcançou o sucesso, pode escolher as diversas formas de se satisfazer. Isso é fascinante.
Não querendo me estender mais do que já estou nesse momento, preciso falar das suas fotografias incríveis. As fotos que você tirou realmente me impressionaram e reforçaram algo que já tinha certeza, o quanto de Leonard tem no Spock. Admiração é uma palavra pequena nesse momento.
Por hora, apenas devo dizer que graças ao seu personagem e todos que compuseram Star Trek, pude então ter uma das primeiras e grandes conexões com o meu pai. Segue a foto para provar a divina admiração que assim tenho.
Live long and Prosper!
De alguém que ainda não sabe de que planeta veio.