O Projeto Quotidiano surgiu timidamente, durante a época que vivia em Paris, e, devido ao caos da metrópole, acabava por refletir sobre temas tais como repetição do dia-a-dia, a diversidade de quotidianos, o compartilhamento do espaço coletivo urbano, o anonimato das grandes cidades e a rapidez do mundo contemporâneo. A reflexão deu origem à tela que dá nome ao projeto e é composta de um fundo branco imaculado e atemporal sobre o qual foram coladas em forma de círculo figuras recortadas de revistas. O círculo é uma representação abstrata da imagem antiga do Ouroboros, serpente que come o próprio rabo e representa o eterno retorno, enquanto que a escolha do material revista é devida, exatamente, à sua banalidade. Essa obra foi exposta no Salon des Indépendants – Salon Art em Capital no Grand Palais, Paris, em 2011, a primeira exposição da qual participei.
Quotidiano, acrílico e colagem de papel de revista sobre tela, 100x100cm, 2010. Exposta no Salon des Indépendants – Salon Art em Capital no Grand Palais, Paris, em 2011.
Em evolução à colagem, criei uma instalação que é sua transposição material em 3D, com objetos reais dos mais diversos quotidianos formando um círculo no solo. Como a reflexão surgiu da relação entre pessoas, nada mais justo de que os espectadores participem ativamente da obra, podendo deixar objetos que passarão a compor a instalação, que, assim, não terminará jamais de crescer.
Quotidiano, instalação (objetos diversos), 200x200cm, 2015-presente.
Finalmente, a vídeo instalação Quotidiano propõe uma reflexão sobre os temas do compartilhamento do espaço coletivo urbano, assim como a repetição diária e a rapidez do mundo contemporâneo através de imagens de pés de pessoas caminhando em estações de metrô de duas grandes cidades: São Paulo (Paulista-Consolação) e Düsseldorf (Hauptbanhof). A escolha de retratar apenas os pés dos passantes a revelia de seus rostos, representa o anonimato das grandes cidades e a maneira como somos frequentemente vistos apenas como números. As imagens dos vídeos são projetadas repetidamente, ao som de passos ecoando no ambiente.
É ainda curioso notar as diferentes reações à artista e sua câmera nas diferentes cidades. A câmera foi posicionada no chão, entre os pés da artista que se manteve em pé, impassível, como se apenas esperasse alguém na estação. Nenhum equipamento de luz, que chamasse atenção para a gravação, foi utilizado. Nos testes realizados em São Paulo e Paris, os passantes nem mesmo prestam atenção na presença da artista, que dirá da câmera. Em Düsseldorf, as pessoas acabam por notar a câmera algumas vezes, enquanto que nos testes em Milão, a posição da artista e seu discreto equipamento de filmagem são bem mais evidentes aos transeuntes.
Quotidiano Düsseldorf (Hauptbanhof), vídeo arte, 2014.
Quotidiano São Paulo (Paulista-Consolação), vídeo-arte, 2014.
A intenção é continuar a série realizando o mesmo experimento em outras cidades do mundo e mostrar desde a colagem inicial de 2011 até as evoluções posteriores em forma de instalação e vídeo-arte. A exposição da instalação em lugares inusitados que tenham relação com a proposta, por exemplo, estações de metrô e outros espaços públicos, também faz parte do projeto. Assim, os espectadores se sentirão curiosos à medida que a obra vai sendo montada no espaço e incitados a se questionar e participar.
Convido à todos para visitar a primeira exposição desse projeto no Centro Cultural Martha Watts, que acontece do dia 08 de junho a 29 de junho. Inclusive, estarei lá durante a abertura, sexta-feira, dia 8, conversando com os presentes e espero vocês lá! Detalhe importantíssimo: a entrada é gratuita!
Serviço:
Exposição “Quotidiano”
Quando: 8 a 29 de junho de 2018
Horários: Segunda a sexta-feira, das 9:00 às 17:00
Onde: Centro Cultural Martha Watts – Sala Da Vinci
Boa Morte, 1257 – Centro, Piracicaba – SP, 13400-140
Entrada gratuita