Já foi dito aqui que a velha desculpa do “queria ter tempo para ler” não se sustenta. É o que pode ser chamado de desculpa esfarrapada. O tempo se tem. É o mesmo para todos. A diferença está no modo com o qual você ocupa ele.
Ler é querer, portanto. O primeiro passo para colocar a leitura em prática é a manifestação da vontade. Tê-la e explicitá-la. Simples assim. Quem muitas vezes reclama da falta de tempo para a leitura sequer possui vontade de ler. Não quer meter a cara nos livros. A leitura é vista como um desafio que lhe põe medo. Mas é bonito, soa importante, passa um ar de pessoa compromissada, cheia de tarefas, dizer que não possui tempo. E assim a velha desculpa é utilizada para justificar a preguiça do pretenso leitor.
Faço aqui uma ressalva, que bem na verdade entendo como desnecessária, mas como pouco se lê, e mesmo quando muito se lê, se está sujeito a isso, opto por evitar incompreensões possíveis. Não se faz qualquer tipo de desdém contra os compromissos do cotidiano. Todos os possuem. Todos. Alguns em maior, outros em menor nível. Os afazeres, desde os mais básicos até os mais hercúleos, preenchem o tempo de todos nós. Algumas ou muitas vezes não nos sobra o tempo almejado para se dedicar a leitura. Há vontade, verdadeiramente, mas inexiste, em determinadas situações, o meio concreto para que se possa efetivá-la com a pretendida leitura. Pode acontecer de vez ou outra assim ser. Mas ampliando-se o contexto, sempre, em algum momento, vai sobrar um tempinho que pode ser preenchido com a leitura. Resta pouco, é verdade. Mas é justamente esse pouco que pode ser muito bem aproveitado. Ler é sempre possível – até para os realmente demasiadamente atarefados.
Deixando então o fator preguiça de lado, bem como o mau-caratismo, é possível arranjar tempo para quem quer ler, mas não encontra espaço para? Sim. É claro. É sempre possível! O tempo que pode ser assim preenchido já existe. Já é dado previamente. Basta o leitor fazer um pequeno esforço para que esse tempo resplandeça. Ele está ali, mesmo que encostado em um cantinho, esperando que você o veja e se utilize dele da melhor maneira possível: lendo.
O tempo não é então tirado de algum lugar. Ele apenas precisa ser descoberto. Sempre tem um espaço do tempo que sobra no dia – ou pelo menos na semana. Repasse mentalmente as suas atividades diárias e perceberá que essas sobras estão por ali, soltas ao longo do dia, por mais tumultuado que possa ser. Pode ser que esses pequenos ou grandes espaços não sejam percebidos logo numa primeira análise, necessitando de uma busca mais parcimoniosa. É que as vezes eles estão escondidos atrás de alguns afazeres que não chegam bem a ser um compromisso. Hábitos que podem ser mudados, coisas desnecessárias e períodos ociosos que não eram assim percebidos até então. Todos esses podem vistos como aquele tempo que se busca tirar, encontrando-o e sendo destinado para a leitura. Também é possível que dentro de um período onde algo já esteja sendo feito, a leitura entre e ali seja posta junto, numa espécie de exceção à regra de que dois corpos não podem ocupar um mesmo espaço. O trajeto feito no transporte público até a faculdade ou trabalho, o horário que se usa para ir ao banheiro, aquele tempo em que se deita na cama para dormir, mas que até que o sono venha é utilizado para mexer no celular, enfim, situações diárias que nada impedem que possam ter um livro sendo lido adicionado ao momento.
A grande questão deixa de assim ser entendida ao se dar conta que a dificuldade não é tanta quanto se parece num primeiro momento. Para quem de fato quer, gosta e/ou precisa ler, encontrar tempo para a leitura é uma dificuldade bem menor do que para aquele que procura, na verdade, uma boa desculpa para dizer que não possui tempo para a leitura. O fato é que cada um destina o tempo livre que tem, por mais pouco que seja, para aquilo que realmente quer fazer. Dias desses, numa roda de amigos, surpreendi-me quando passaram a falar quantas horas jogadas cada um tinha em determinados jogos. Vários títulos eram mencionados, seguidos das várias centenas de horas que vinham como respostas. Todos amigos que trabalham, estudam, com filhos e esposas, ou seja, que possuem dias atarefados como qualquer outra pessoa. Optam por utilizar o tempo livre para jogar vídeo game. É o que gostam e decidem que o tempo de sobra deve ser utilizado para tanto. Assim é para qualquer um. Há sempre parte do tempo que se é dedicado a algo que se diz gostar. Alguns ocupam esse tempo com esportes, outros com filmes, alguns outros com o próprio ócio prazeroso. Para nós, leitores entusiasmados, a leitura é sagrada nesses períodos que restam. Eis aí o tempo que sempre existe. É de se notar ainda que não se faz necessário substituir por completo uma atividade por outra – a leitura. É possível gostar de várias coisas e fazê-las todas na medida do possível. A grande empreitada é administrar o tempo para que se consiga fazer algumas delas. A importância dada é que definirá quais serão feitas.
O fato é que a leitura é possível até mesmo nas mais turbulentas das vidas. Sempre há um espaço que sobra, clamando para que seja preenchido com algo. Esse algo pode ser a leitura. Quem realmente quer, lê. Quem não quer, arranja desculpa. E o tempo, a suposta falta dele, é a pior e mais usada de todas justificativas pelos pretensos leitores. Ele está ali, posto de igual modo para todos. Cabe a você reconhecer que ele existe e preencher os espaços com a leitura.
A questão, portanto, não é de onde se tira tempo para a leitura, mas de que modo melhor se utiliza do tempo para que a leitura seja possível. E é sempre possível!
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Um comentário sobre “De onde se tira tempo para a leitura?”