Flávia Junqueira, Theatro São Pedro-1917 #1, impressão digital com pigmentos minerais, 150 x 160 cm, 2018.

Olhar para essa e outras obras de Flávia Junqueira, traz um sorriso aos lábios do observador. Os balões coloridos não podem deixar de atrair nosso olhar e provocar reminiscências da infância – a memória e a infância estando bastante presentes no trabalho da artista.

Entretanto, a intenção vai além do lúdico e do belo – o belo sendo outro ponto importante em sua poética -, pois os balões coloridos dialogam com a arquitetura na série Theatros, na qual a fotógrafa os leva a diferentes theatros  – escritos da tradicional e antiga maneira com h, como os próprios teatros continuam usando – e os fotografa na sala de espetáculo e, em alguns casos, no saguão, da mesma maneira que fez em alguns palácios antigos em uma outra série. Aquele da fotografia que escolhi é o Theatro São Pedro, em São Paulo, construído em 1917, como indicado no título da imagem, e ainda em atividade nos dias atuais, com destaque para a representação de óperas.

Flávia Junqueira, Theatro São Pedro-917 #2, impressão digital com pigmentos minerais, 150 x 160 cm, 2018.

Flávia Junqueira, Theatro Municipal-1911 #1, impressão digital com pigmentos minerais, 150 x 150 cm, 2018.

Voltando aos balões, esses elementos coloridos, flutuantes, leves, efêmeros e por vezes, translúcidos contrastam com seu entorno, rebuscado, sério, pesado, tradicional e antigo, criando assim uma atmosfera carregada de surpresa e do inesperado, e, eu diria, até mesmo de sonho.

No caso dessa imagem, especificamente, apesar desse jogo de contrários, os balões translúcidos e numerosos dialogam com os cristais do lustre que possuem essas mesmas características em sua estética própria. Ainda sobre a composição, acredito que haja também uma harmonia entre a forma arredondada dos balões que flutuam e a decoração do teto, na qual elementos circulares se agrupam em volta do lustre.

Notem que vemos os balões ocupando a plateia – a cortina, inclusive, está fechada-, invertendo assim a dinâmica tradicional dos teatros, nos quais a “ação” acontece no palco e os espectadores na plateia só estão ali a presenciando. Além disso, a fotografia, outra espécie de ação, executada pela artista, também acontece do fundo da plateia.

É interessante ainda perceber que a cortina e os assentos, esses polos opostos de ação X contemplação, possuem o mesmo vermelho, sendo esse tom o destaque da composição, pois nela quase não há balões dessa cor.

Finalmente, creio que haja algo de quase melancólico em ver esses locais de festa – lembremos que haviam, no passado, bailes de gala nos teatros, seus saguões sendo verdadeiros locais de sociabilidade – vazios de seres humanos e repletos de balões, tal qual em uma festa que já acabou.

Fontes/Bibliografia:

Entrevista com a artista.

Giovanna BRAGAGLIA, “Flávia Junqueira – Projetos para finais felizes”, in Memória Paço das Artes, [Online]. Consultado em 11/09/2018.
https://mapa.pacodasartes.org.br/page.php?name=artistas&op=detalhe&id=421&sid=472

Flávia Junqueira, [Online]. Consultado em 11/09/2018.
https://www.flaviajunqueira.com.br/

“Flávia Junqueira”, in Zipper Galeria, [Online]. Consultado em 11/09/2018.
http://www.zippergaleria.com.br/pt/artistas/flavia-junqueira/

“Quando os monstros envelhecem”, in Zipper Galeria, [Online]. Consultado em
http://www.zippergaleria.com.br/pt/exposicao/quando-os-monstros-envelhecem/

Theatro São Pedro, [Online]. Consultado em 11/09/2018.
http://theatrosaopedro.org.br/

Fonte das imagens:

https://www.flaviajunqueira.com.br/

http://www.zippergaleria.com.br/pt/artistas/flavia-junqueira/