O conflito entre Israel e Palestina no filme ‘Lemon Tree’ de Eran Riklis

Derrida é um filósofo que nos ensina a pensar as questões já determinadas por ângulos distintos. Talvez seja um autor que nos lança pra fora do vício que a cotidianeidade acaba nos colocando. Talvez não seja mais interessante dizer que ele nos permite ângulos distintos, de alguma maneira as determinações do pensamento, que podemos chamar ideologia, sejam elas a nos impedir essa mirada não ontológica. A infinitude seria um existencial, um artifício usado para essa ideia.

O filme Lemon Tree permite-nos esse ideário. O diretor Eran Riklis dimensiona o conflito entre Israel e a Palestina. Isso, no entanto, é um pano de fundo que é circundado. Em verdade, serpenteado pela estória de Salma Zidane (Hiam Abbass) que possuiu como herança familiar um limoeiro. Poderíamos falar de um abacateiro e lembrarmos da Refazenda de Gilberto Gil. Posso até falar do pé de mexerica da casa de minha avó. Ai se alguém cortasse aquele pé. Não seria talvez egoísmo nosso pensar o problema universal de israelenses e palestinos que está ali na película sob a dimensão do meu pé de mexerica? Mas será que quando olhamos as maneiras de resolver os problemas humanos, o grande problema não é mesmo a questão de não captarmos as singularidades? De novo a questão do nome próprio posto por Derrida. O meu pé de mexerica tinha um nome. Os limões azedos de Salma também tinham os deles. O abacateiro de Gilberto Gil foi mesmo um companheiro.

Logo, como dissemos ao início da prosa. Parece que o filme toma a questão político-religiosa ali na própria dimensão ensinada por Derrida. Ora, a película deixa clara a divisão. O sexismo que existe na região. Mas ali há o limão. O gosto azedo do limão. O mesmo azedume que revela as relações naquele local. Do mesmo jeito que Salma adoça a chegada das pessoas com seu riso e seus limões. Seria então uma questão de hospitalidade. Ora, o problema ocorre numa briga entre vizinhos. Os vizinhos, conhecidos exatamente pelos socorros nas horas de aflição. A vizinhança nas cidades menos metrópoles é jeito de ser família. As famílias que não se unem por sangue. Ali as pessoas se separam e deixam sangue nas linhas que dividem. Logo, pensar essa questão a partir do problema da vizinhança é maneira de entender as possibilidades que um problema nos apresente se não o encararmos apenas pelo ângulo já viciado. As mulheres oprimidas pelo véu. O limão que liberta é o mesmo limão que aprisiona. E aqui chegamos a uma dimensão interessante.

O ontem sempre a assombrar o hoje com suas cores ou a ausência delas. A história a pesar os ombros do humano  como um fardo que ele não está obrigado a carregar. Salma não quis carregar. Não quis carregar o peso da tradição familiar. Desafiou o estado. Ora, não desafiar ali era jeito de manter uma tradição: a de se curvar perante uma opressão. Ora, o que seria um limoeiro perto dos interesses do estado israelense? O que é um corpo caído no chão se o ministro da defesa estiver protegido? Aliás, qual o valor dos limões? E dos humanos, somos distintos? Limões e humanos ali se confundem na descondição humana. Um, o fruto, singular em seu azedume e cor. Outro, o humano, singular em sua estória. Destruir o fruto fora destruir o próprio humano. A corte decide por decepar metade dos limoeiros. Será que o problema que anunciamos acima agora pode ser aclarado? Não se trata do limão universal, há uma estória singular: um limão é igual a metade dos limoeiros. A matemática injusta que percorre os tribunais. O kafkianismo presente nos tribunais. Disso já sabíamos quando falamos no pé de mexerica da casa da vó Tina. O direito está distante do problema em questão. Daí que talvez seja esse um dos impasses para que o problema de palestinos e israelenses nunca se resolva. A hipocrisia mostrada no filme é imensa: há ali uma tentativa constante de mostra de poderes. A apropriação dos limões no dia da festa do ministro mostra isso.

No entanto, falávamos de nomes próprios. Não apenas do feminino e do masculino. De palestinos e israelenses. A questão é o limão de Salma. Meu pé de mexerica e o abacateiro de Gilberto Gil. Talvez os poetas expulsos por Platão tivesse a noção do extremismo. Salma teve sua estória rasgada pelo corte de parte dos seus limoeiros. O ministro israelense, seu vizinho inoportuno nem mais veria os limões por causa de um muro colocado na margem de sua casa. Sua esposa foi-se embora. Talvez ela gostasse da cor do limão. Salma cuidará de seus limões. O abacateiro que nos ensine “a fazer renda”, para que não aprendamos a criar limites, mas que saibamos namorar.

 

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