Escrever para que(m)?

Há diversas formas de escrita ao considerar aquilo que podemos chamar de estilo. Para além das categorias linguísticas, literárias ou quaisquer outras que buscam “catalogar” as formas de escrita, há também o estilo de quem escreve como algo a ser considerado. Frases mais pontuadas, longos parágrafos, linguagem rebuscada, objetividade naquilo que é exposto e até neologismos estão entre as questões tantas que mudam na escrita a depender do estilo adotado por aquele que escreve. Isso é algo individual, que pertence a cada um que escreve, que se desenvolve pelo próprio exercício da escrita e passa a se consolidar como algo característico do autor. Basta pouco para identificar que um romance foi escrito por José Saramago, por exemplo, pois o seu estilo também o caracteriza e o anuncia prontamente.

Além disso tudo, do estilo que cada autor possui, talvez uma questão que também oscile bastante, no sentido de que para cada um a coisa funcione de maneira diferente, seja a da razão pela qual se escreve. Afinal, qual o motivo da escrita? O que leva alguém a dedicar seu tempo para traduzir as coisas em palavras? Por que escrevemos? Queremos ser lidos ou apenas esvaziar algo que precisa ser liberado de nosso corpo (ou da nossa mente)? Escrevemos por necessidade própria ou de terceiros?

Não acho que o motivo realmente importe, desde que sempre prossigamos escrevendo. Mas também creio que a curiosidade sobre a motivação da escrita seja algo presente em todos nós – tanto num sentido próprio, em que o exercício da busca pelos motivos enseja numa espécie de autoanálise, quanto para com aqueles escritores que costumamos ler, pois é no mínimo agradável ou motivador descobrir as razões pelas quais escrevem aqueles que admiramos. Assim, por mais que ausente uma importância concreta em se estabelecer uma razão para a escrita, há também uma importância de outra espécie que justifica dialogar sobre o tema – nem que seja para satisfazer a nossa própria curiosidade.

Costumeiramente, escritores são questionados em entrevistas sobre o seu processo de escrita. De onde tiram suas ideias, rotinas de escrita, exercícios realizados e tempo que decidam para a leitura e para a escrita estão geralmente entre as perguntas de praxe, onde também acaba entrando a questão sobre a razão de escrever. Haveria alguma resposta correta ou única?

Assim como o estilo, que acompanha cada autor por uma série de fatores, a razão da escrita possui diferentes respostas, inexistindo qualquer forma de padrão absoluto que justifique de modo único a questão. Ao ser indagado sobre o motivo de escrever, cada autor pode ter uma resposta, ou até mais, onde conste suas justificativas para o ato de escrever. E aqui, nas respostas possíveis, há um mundo repleto das mais variadas razões.

Há quem escreva como forma de libertação (de seus demônios, de pensamentos que precisam ser soltos, da própria necessidade da escrita…). Há quem escreva objetivando a fama. Há quem escreva pelo puro prazer da escrita. Há quem escreva simplesmente para ganhar dinheiro. Há quem escreva por conta de alguém – ou para esse alguém. Há quem escreva para poder ter registrado seus pensamentos e ideias. Há quem escreva irrefletidamente. Há quem escreva por estar obrigado a escrever. Há quem escreva por sublimação. Há quem escreva e não goste de responder e nem ser questionado sobre as razões de escrever.

As respostas podem mudar também a depender do tipo de escrita que esteja a se analisar – e por tipo de escrita leia-se aqui tanto a categoria de escrita como o estilo adotado pelo autor.

Naquela famosa entrevista de Clarice Lispector, sua última, feita pela TV Cultura, quando indagada sobre a razão de continuar escrevendo, a escritora despreocupadamente responde com um enfático “e eu sei?”. Razão justificante deveria haver?

Gustavo Melo Czekster pontua em uma entrevista que é escritor inclusive aquele que produz a “literatura de gaveta”, do tipo que escreve literatura para guardar para si próprio, sem a intenção de publicar ou de ser lido por terceiros. Talvez aqui se teria um escritor que escreve por vontade ou por necessidade própria, não almejando coisa outra que não libertar as palavras que o consomem internamente.

O grande mestre do terror, Stephen King, sempre pretendeu alcançar o maior número de pessoas possível com sua escrita. O ato de escrever lhe acompanha desde a tenra idade como uma espécie de necessidade de colocar ordem às ideias tantas que consumiam e consomem sua mente. Talvez em King resida assim mais de uma resposta sobre a questão ora em discussão, pois além da vontade de escrever, sempre houve também um objetivo a ser alcançado pelo escritor – que com grande êxito foi conquistado.

Pessoas escrevem por diferentes razões. Não há resposta única, muito menos respostas certas ou erradas. O que motiva cada escritor a escrever é algo que unicamente lhe diz respeito e justifica o ato da escrita.

De todo modo, é sempre interessante questionar a si próprio ou aos outros as razões que levam à escrita. É por conta disso que encerro esse pequeno texto com uma pergunta que serve como convite à reflexão: escrever para que(m)?


Fonte da imagem:

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