Já abordei aqui a questão de que devemos conversar sobre as nossas leituras. Você costuma conversar com alguém sobre o livro que está lendo? Discute suas impressões sobre a última obra lida? Busca expandir as análises e interpretações possíveis sobre aquilo que lê através do diálogo com outros leitores ou potenciais leitores daquela determinada leitura? São indagações que espero sempre sejam afirmativas as respostas dadas, tanto por mim quanto por qualquer pessoa que eu tenha contato quando o assunto da literatura surge na conversa. Retomo aqui então o ponto do ‘falar sobre a literatura’ para que justamente continue se falando sobre a literatura.
Para os ávidos leitores, falar sobre literatura é uma necessidade. É praticamente impossível conseguir terminar a leitura de um bom livro sem que se queira compartilhar alguma coisa daquela história com alguém. Os infortúnios que ocorrem no trilhar da vida de Jean Valjean, as possíveis soluções do mistério que se faz presente em um caso a ser resolvido por Hercule Poirot, as aventuranças repletas de intempéries que acontecem em Westeros, a complexidade em tentar se situar na árvore genealógica da família Buendía em Macondo, enfim, as possibilidades que surgem durante a leitura de bons livros sobre os vários pontos que o leitor tem vontade de discutir a respeito são inúmeras, tantas, tamanhas que não podem ser satisfeitas de outra forma que não pela conversa sobre as temáticas literárias que ensejam nesse afã de se falar sobre.
Ao falar sobre qualquer ponto de uma determinada obra, o regozijo do leitor se faz presente. É que é gostoso demais falar sobre aquilo que se lê, principalmente quando essa fala surge de forma espontânea – decorrente daquela vontade de estabelecer um bom diálogo literário que é inerente de todo e qualquer bom leitor. Falar sobre livros é satisfatório, é agradável e, sem sombra de dúvidas, é salutar.
De minha parte, estou sempre a falar sobre livros: dos que já li, dos que estou lendo e daqueles que pretendo ainda ler. A literatura está presente em minha vida de forma ampla. Qualquer seja o âmbito em que me situe em dado momento (no escritório, em casa, na faculdade…), a literatura é um tema recorrente nas minhas conversas. Com isso, mantenho o diálogo literário sempre em voga, compartilhando vários assuntos que permeiam as obras literárias que são objeto dessas discussões. Assim, livros são sempre recomendados pelos tantos interlocutores presentes na conversa. Quando a obra em comento já foi lida por mais de um participante do diálogo, interpretações, leituras e abordagens distintas sempre surgem, possibilitando que novas óticas sejam percebidas e lançadas sobre um mesmo livro. Conversar sobre livros, portanto, expande a própria literatura.
Os resultados disso tudo são vários. Por exemplo, dia desses encontrei num evento uma aluna que tinha assistido a uma palestra minha sobre “Direito e Literatura”. Dentre as obras que havia abordado em minha fala, tratei um pouco de “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, clamando aos presentes, que eventualmente fossem “traumatizados” com a leitura “forçada” que tiveram que fazer da obra no ensino médio, para que dessem uma nova chance ao livro, agora de maneira despretensiosa, buscando fazer uma imersão efetiva em toda a riqueza que esse belo romance machadiano proporciona. A aluna comentou que após ter ouvido tal pedido deu a nova chance para “Dom Casmurro”, resgatando assim o brilhantismo dessa grandiosa obra. Outra surpresa agradável decorrente desse processo de falar sobre literatura me aconteceu quando estava numa livraria. A atendente, que havia assistido uma palestra minha sobre “Direito Penal e Literatura”, me reconheceu, chamando-me e me cumprimentando pelo nome, trazendo-me em seguida a sugestão de um livro cuja temática muito tinha a ver com o que eu abordei quando da referida palestra. Situações como essas e tantas outras que acontecem e são passíveis de ocorrer, por conta do ato de se falar sobre literatura de qualquer forma possível, demonstram o quanto vale a pena, além de ser muito agradável e satisfatório, dialogar sobre livros.
Falar sobre literatura cria laços, estabelece novas conexões, mantém a roda literária girando. É disso que surgem novas ideias, sugestões de novos livros a serem lidos, novas histórias a serem desbravadas, releituras tantas possíveis sobre um mesmo livro. Essa fala pode acontecer em qualquer lugar: em ambientes formais e informais, em eventos acadêmicos, na mesa do bar, no jantar da família, na roda de conversa entre amigos, na cama com a parceria ou o parceiro… Enfim, qualquer é lugar é lugar para se estabelecer uma conversa sobre livros. Não há tempo ruim e a vontade de se discutir a respeito é inerente de todo bom leitor.
Conversemos, portanto, sobre literatura, fomentando assim a própria literatura!
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