André Kertész, Circo, Budapeste, cópia de gelatina de prata, 24,7 x 19,6 cm, 19 de maio de 1920, impressa em 1980. Conservada no Denver Art Museum, Denver, EUA.
Essa imagem de um casal observando, curioso, entre as frestas de uma cerca de um circo em Budapeste, foi tirada no início da carreira do renomado fotógrafo húngaro, posteriormente naturalizado americano, André Kertész (1894-1985). A fotografia foi feita precisamente em 19 de maio de 1920, por um jovem Kertész de vinte e poucos anos, que trabalhava no setor da bolsa de valores de um banco e fotografava em seu tempo livre. Alguns anos depois, ele se mudaria para Paris e deixaria de vez sua carreira no mercado de ações para se tornar fotógrafo freelance. Ele se tornaria famoso pelas fotografias de rua, nas quais capturava imagens espontâneas da vida cotidiana, sendo o precursor dos célebres Cartier-Bresson e Brassaï, aos quais ele ensinou fotografia.
Entretanto, suas obras espontâneas e modernas também possuem grande beleza e harmonia em suas composições poéticas – Kertész foi, inclusive, criticado por editores de revistas americanas para as quais trabalhava, quando morou em Nova Iorque, por criar fotografias poéticas demais para suas publicações. Em Circo, Budapeste, podemos notar a simetria da imagem na qual o casal está no centro. Suas roupas fluidas, com texturas e maciez, contrastam com o fundo reto de tábuas verticais. Além disso, o fundo é dividido entre a faixa superior da tenda listrada, as faixas da cerca de madeira e o chão de grama. Trata-se de uma imagem extremamente organizada, mas sem ser sufocante, na qual a harmonia entre as formas da composição prevalece.
Ainda mais interessante é a curiosidade que o trabalho desperta no espectador. O casal observa por uma fresta, mas nós não conseguimos ter nenhum vislumbre do que eles vêm. O fato de as pessoas estarem de costas, ou seja, não vemos seus rostos, faz com que nos identifiquemos com eles. Essa espécie de convite a participar da imagem, aparece na história da arte de diversas maneiras, uma delas, sendo, justamente, através do recurso de representar personagens de costas.
Essa fotografia, tirada em 1920, mas impressa em 1980, faz parte do portfólio A Hungaria Memory (Uma Memória Húngara). O portfólio é composto por 15 obras que mostram seu país natal e foi impresso em uma edição limitada a 100 exemplares, cada uma das imagens assinadas no verso pelo fotógrafo.
Bibliografia/Links:
Patricia ALBERS, “André Kertész” in Enciclopaedia Britannica, [Online]. Consultado em 15/12/2020. https://www.britannica.com/biography/Andre-Kertesz
Ian HAYDN SMITH, Breve história da fotografia, São Paulo, Gustavo Gili, 2018. Trad. Edson Furmankiewicz. Compre esse livro aqui (comprando qualquer produto na Amazon atravésdesse link, você ajuda a manter o Artrianon e não paga nada amais por isso).
Val WILLIAMS, Quando a fotografia é genial, São Paulo, Gustavo Gili, 2014, p. 34-35, 203. Trad. Edson Furmankiewicz. Compre esse livro aqui (comprando qualquer produto na Amazon através desse link, você ajuda a manter o Artrianon e não paga nada a mais por isso).
“André Kertész, Circus, Budapest, from the portfolio A Hungarian Memory” in San Francisco Museum of Modern Art, [Online]. Consultado em 14/12/2020. https://www.sfmoma.org/artwork/87.138/
“ANDRÉ KERTÉSZ (1894-1985). A Hungarian Memory.” in Swann Auction Galleries, [Online]. Consultado em 15/12/2020. https://catalogue.swanngalleries.com/Lots/auction-lot/ANDR%C3%89-KERT%C3%89SZ-(1894-1985)-A-Hungarian-Memory?saleno=2548&lotNo=13&refNo=754570
“Circus, Budapest, 19 May 1920” in Denver Art Museum, [Online]. Consultado em 14/12/2020. https://www.denverartmuseum.org/en/object/1987.443
Fonte das imagens:
https://www.sfmoma.org/artwork/87.138/
Comprando qualquer produto na Amazon através desse link, você ajuda a manter o Artrianon e não paga nada a mais por isso.