OBRA DE ARTE DA SEMANA: Duas das filhas de Akhenaton


Afresco das princesas
ou Duas das filhas de Akhenaton, afresco (pintura sobre gesso), 40 X 165 cm, cerca de 1345-1335 a.C. Conservado no Ashmolean Museum, Oxford, Grã-Bretanha.


Afresco das princesas
ou Duas das filhas de Akhenaton (detalhe).

O afresco representando duas das filhas do faraó Akhenaton é um dos exemplos mais importantes da arte do período de Amarna. Trata-se de um momento único na produção artística egípcia, no qual deixou-se de lado a rigidez presente nos modelos tradicionais que dominaram quase toda a história da arte no país.

Amenófis IV ou Amenotepe IV, em duas das diferentes possíveis grafias, mudou seu nome para Aquenáton ou Akhenaton – “aquele que serve a Aton” – e tentou instaurar a religião monoteísta no Egito, venerando o deus Aton, em detrimento do politeísmo que era praticado até então, despertando a ira da classe sacerdotal. O faraó fundou uma nova capital chamada Akhetaten, que significa “o horizonte de Aten”, hoje conhecida pelo nome árabe de Tell el-Amarna. Nessa nova cidade, a arte, que antes era extremamente ligada à religião e à vida após a morte, pôde florescer mais livremente, dando origem ao estilo que chamamos de Amarna. Nele, as representações são muito menos rígidas do que no restante da história da arte egípcia, há muito mais espaço para a representação de movimento e de emoções, além da possibilidade de retratos individualizados.


Afresco das princesas
ou Duas das filhas de Akhenaton (detalhe).


Tumba de Nebamun
, afresco (pintura sobre gesso), 98 X 98 cm, cerca de 1350 a.C. Conservado no British Museum, Londres, Grã-Bretanha.

No afresco das princesas, podemos ver somente a parte inferior remanescente de uma pintura maior que ocupava uma das paredes do palácio de Akhenaton, em Akhetaten. Graças a fragmentos que mostram partes do corpo de outros personagens presente na obra, pode-se adivinhar uma cena familiar descontraída, bastante diferente das cenas das tradicionais pinturas egípcias de outros períodos. Podemos ver os pés calçados em sandálias do faraó à direita da composição, enquanto a rainha Nefertiti estaria sentada à esquerda – seus pés calçados em sandálias, apesar de um pouco apagados, ainda são visíveis -, e, entre eles, encontram-se mais três das seis filhas do casal, das quais é possível discernir os pés e parte das pernas. Na parte debaixo da composição, duas outras filhas brincam sentadas em almofadas, em uma cena de afeto fraternal, que mostra a emoção e o movimento característicos do estilo Amarna. Acredita-se que também houvesse um bebê no colo da rainha, pois um fragmento de mão infantil foi encontrado.

O tamanho extremamente desigual das figuras – mesmo as meninas sendo crianças pequenas, elas não seriam tão pequenas comparadas aos seus pais – é característico da arte egípcia, na qual os personagens mais importantes são representados em tamanho maior. Deuses e faraós são retratados em tamanho maior, assim como frequentemente maridos são mostrados em dimensão maior do que suas esposas, e pais em escala superior em relação aos filhos.


Afresco das princesas
ou Duas das filhas de Akhenaton, afresco (pintura sobre gesso), 40 X 165 cm, cerca de 1345-1335 a.C. Conservado no Ashmolean Museum, Oxford, Grã-Bretanha.


Afresco das princesas
ou Duas das filhas de Akhenaton (detalhe).


O julgamento de Ani
, papiro pintado, 67 X 42 cm, cerca de 1250 a.C. Conservado no British Museum, Londres, Grã-Bretanha.

Também podemos perceber nessa imagem algumas das peculiaridades do estilo Amarna tardio, que, apesar de ainda bastante elegante e delicado, se torna, de certa forma, exagerado em sua maneira de representar as formas humanas: os crânios alongados, os quadris largos e as pernas delgadas. Essas características não foram exclusivas à pintura, como podemos ver na estatueta mostrando a rainha Nefertiti de maneira parecida.

   

Estatueta da Rainha Nefertiti, 40 cm de altura, cerca de 1370-1350 a.C. Conservado no Staatliche Museen, Berlim, Alemanha.

Apesar de fragmentado, o afresco – técnica na qual o artista pinta diretamente no enduite ainda molhado – deve seu bom estado de conservação à perícia do arqueólogo William Flinders Petrie, que o descobriu na década de 1890. A pintura havia sido danificada por formigas, mas foi possível preservá-la. O afresco foi cuidadosamente retirado do seu local de origem, sendo a prática de destacar afrescos das paredes nas quais encontravam originalmente, algumas vezes por motivos de melhor preservação, inclusive, é bastante comum. Hoje, a obra faz parte do acervo do Ashmolean Museum, da Universidade de Oxford, na Inglaterra.

 

Bibliografia/Links:

Giovanni GARBINI, O Mundo da Arte: Mundo Antigo, Rio de Janeiro, Expressão e Cultura, 1979, 144-166. Trad. Álvaro Cabal, Áurea Weissenberg, Donaldson Garschagen, Henrique Benevides, Lélia Contijo Soares, Sílvia Jambeiro e Vera N. Pedroso.

Alberto SILIOTTI, Grandes civilizações do passado: Egito, Barcelona, Ediciones Folio, 2006. Trad. Francisco MANHÃES.

“papyrus” in British Museum, [Online]. Consultado em 22/02/2021.
https://www.britishmuseum.org/collection/object/Y_EA10470-3

“Princess Fresco” in Ashmolean Museum, [Online]. Consultado em 22/02/2021.
https://www.ashmolean.org/princess-fresco#listing_155901_0

“tomb-painting” in British Museum, [Online]. Consultado em 22/02/2021.
https://www.britishmuseum.org/collection/object/Y_EA37977

 

Fonte das imagens:

https://www.ashmolean.org/princess-fresco#listing_155901_0

https://en.wikipedia.org/wiki/Tomb_of_Nebamun#/media/File:TombofNebamun-2.jpg

https://www.britishmuseum.org/collection/object/Y_EA10470-3

https://www.ancient.eu/image/11115/statue-of-nefertiti/

https://www.wikiwand.com/en/Standing_Figure_of_Nefertiti


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