Bonecas Barbie, aquelas que toda menina adora quando criança, hoje trazem alerta para a violência contra a mulher, a mesma que um dia brincava com essas bonecas. Trata-se de obras da série Dez Amores, na qual Juliana Sícoli dá voz a mulheres silenciadas pela violência, que foram expostas no evento Foto em pauta, em Tiradentes.

A artista criou obras que trazem essa reflexão através de fotos impressas em lona (para serem expostas ao ar livre) de bonecas Barbie dos mais diversos tipos físicos, maquiadas com manchas em tons de roxo, representando hematomas, e, por consequência, a agressão, não somente física, mas também sexual, psicológica, moral e patrimonial que mulheres sofrem diariamente. Em 2022, a cada 10 minutos, foi registrado um caso de violência doméstica no Brasil – imaginemos ao número que chegaríamos com o que não chegou a ser registrado, muitas vezes por medo de mais agressões.

 As imagens são acompanhadas de nomes de mulheres que realmente foram agredidas e informações sobre onde e com quem estavam no momento da violência, segundo boletins de ocorrência. O que mais choca é o fato de que a maior parte dessas agressões ocorreram em ambientes que deveriam ser tidos como seguros – como a própria casa da mulher – e na presença de seus companheiros, ex-companheiros, e até mesmo de seus filhos. Não se trata de um estranho que persegue uma mulher desconhecida, de saia curta, talvez alcoolizada, pela rua – como muito gostam de afirmar os que tentam responsabilizar as vítimas por atos que não são, de maneira nenhuma, sua culpa. Os lugares que deveriam representar um refúgio e as pessoas próximas, que deveriam ser aquelas que acolhem, acabam se tornando os monstros no caso dessas mulheres.

O trabalho tem ligação com outra das séries da artista – da qual já falamos aqui no Artrianon -, na qual reproduziu fotografias antigas de mulheres em perfeito juízo mental trancafiadas em um manicômio, prática frequente quando algum membro da família queria se ver livre de uma mulher, até não tanto tempo atrás. Nessas obras, trechos das cartas das internas são reproduzidos através de bordado sobre as imagens, dando, novamente, voz a mulheres silenciadas. Os tons violeta e avermelhados também aparecem nessa série, evocando hematomas e feridas.

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Por Bruna e Aline Pascholati