“Na pedra de Paris está gravado o sinete do Egito como se essa sombra soberba, radiante, habitasse o subconsciente coletivo da capital francesa”. Um dia, quando eu então consultava um livro na biblioteca Forney, no coração do Marais, essa citação de Béatrice de Andia, responsável da ação artística da Cidade de Paris, atraiu minha curiosidade. É verdade que o Egito e a França entretêm, há muito tempo, uma relação estreita: desde o século XVI, missões científicas repertoriam os saberes oriundos da antiga terra dos faraós, e a expedição do Egito, conduzida pelo General Bonaparte de 1790 a 1801, disseminou enormemente essa paixão pela arte egípcia. Nenhum parisiense se surpreende ao cruzar um dos obeliscos de Luxor na Praça da Concórdia, e a Pirâmide do Louvre se integrou maravilhosamente na paisagem urbana; mas exceto esses dois monumentos, eu me perguntava quais poderiam ser os outros traços desse entusiasmo dos parisienses pelo Egito. Armada de notas tomadas de diversos livros e de minha câmera fotográfica, eu decidia, então, partir a descoberta do Egito parisiense.
Meus primeiros passos me levaram ao centro de Paris: saindo do metrô na Praça do Châtelet, eu me encontrei quase imediatamente diante de uma imponente fonte sobreposta por uma coluna. Quatro grandes esfinges cospem jatos d’água na bacia da fonte; elas estão encabeçadas pelo nemes, esse toucado real com duas bandas simétricas encimadas pelo uraeus, a serpente ereta. Sobre a coluna, a águia esculpida remete ao reino de Napoleão I.
Seguindo a pé ao longo do Sena, cheguei bastante rápido ao Museu do Louvre. A pirâmide de vidro, no centro do Pátio de Napoleão, é sempre apreciada pelos turistas que se apertam em torno dela. Ela é acompanhada por três pequenas pirâmides que servem de claraboia ao museu; uma última pirâmide, invertida, se esconde sob o Carrousel du Louvre. Passando sob suas arcadas, penetro na Cour Carrée, cercada de cada lado pelas galerias do museu que abrigam as coleções. Demorando-me sobre a fachada oeste da Cour Carrée, eu percebo então um curioso personagem: comprimida entre uma pilastra e uma janela, uma figura feminina sentada sobre um trono segura na mão direita um sistro, esse instrumento egípcio composto de um cabo de madeira e anéis metálicos que se chocam quando chacoalhados. Sobre seu ombro está pousado um pássaro e sobre sua cabeça, um disco solar ladeado de chifres de vaca. Apesar da estranheza de seu traje, assimilo-a imediatamente à deusa Ísis, a irmã-esposa de Osíris e mãe do deus falcão Hórus. Grande feiticeira, ela assegura um papel protetor junto aos defuntos; foi até mesmo, durante três anos, representada na proa do navio que figura nas armas parisienses!
Ísis não é a única referência egípcia na Cour Carrée: ainda na fachada oeste, existe uma personificação do Nilo, esse rio sagrado no Egito, que parece me observar, encostado em uma pirâmide e com o pé sobre a cabeça de um crocodilo. Sua mão esquerda repousa sobre um recipiente do qual escorre água abundante.
Ladeando a Cour Carrée, eu contemplo numerosas estátuas que habitam os nichos cavados nos muros; homens e mulheres vestidos à antiga, mas uma figura me capta por mais tempo: Cleópatra, a mão sobre uma cesta de frutos e uma áspide enrolada em volta do pulso direito, mede os passantes com severidade. Ela está bem longe da imagem que eu tinha de Cleópatra, sua envergadura é quase masculina, seu rosto austero; talvez o artista quisesse representar a coragem e a força de vontade de uma Cleópatra próxima do suicídio. Ela ainda provoca menos simpatia do que a Cleópatra morrendo de François Barois, conservada alguns metros em baixo do solo, no seio do museu!
Frente à Cleópatra, sobre a fachada leste da Cour Carrée, uma personificação da arqueologia egípcia, por Horace Daillion, é reconhecível graças à estatueta de faraó que ela segura na mão esquerda.
Cleópatra de François Barois
Eu decido então me dirigir a Praça da Concórdia, atravessando as Tulherias. Dado que eu atravesso o jardim regularmente, eu não havia jamais notado as esfinges que guardam as entradas ou que ficam perto das fontes.
Chegando a frente da grande fonte, olhando da Praça da Concórdia, o deus Nilo surge, mais uma vez, sob os traços de um velho homem apoiado em uma pequena esfinge. Saindo do jardim, a Praça da Concórdia e seu obelisco causam sempre uma bela impressão!
Continuando em direção à Champs-Elysées, eu chego ao Grand Palais: atrás das colunas, percebo todo um grupo de egípcios em pleno trabalho, representados sobre um longo mosaico. Trata-se do afresco A arte através dos séculos; ele é, entretanto, pouco realista, porque ninguém imaginaria altos dignitários egípcios (usando o nemes) puxando pesadas cargas para construir uma pirâmide! Entre duas colunas, uma estátua de mulher desnuda está sentada sobre a cabeça esculpida de um faraó e segura em suas mãos uma representação do deus Osíris.
Agora, a não ser que você goste muito de caminhar, é melhor pegar o metrô; a linha 2 te levará diretamente à próxima etapa, o Louxor. Não é um templo egípcio, mas, na verdade, um cinema, inteiramente restaurado desde 2013. Sobre a fachada alternam-se cabeças de faraó, a deusa leoa Sekhmet, discos alados ou ainda papiros… Não hesite em empurrar a porta para admirar os baixos relevos em cima dos caixas!
Pegando agora a linha 4, eu desço na Strasbourg Saint-Denis; subindo a rue d’Aboukir (ainda uma nova referência ao Egito), de repente me encontro na Praça do Cairo. Sobre uma passagem coberta – a Passagem do Cairo – descubro um prédio realmente impressionante do qual eu não havia jamais ouvido falar. Decorado de um friso gravado com pseudo-hieróglifos, estão três gigantescas cabeças de Hathor (a deusa vaca) que divertem os passantes. Se você levantar a cabeça, o friso mais alto representa um personagem com o nariz proeminente: nenhuma relação com o Egito aqui, é somente a caricatura do artista.
A partir daqui, diversas possibilidades se oferecem a você: o Parque Monceau, a oeste, abriga uma pequena pirâmide, entre outras réplicas de ruínas. Antigos adornos de jardins, sua finalidade era, antes de tudo, surpreender o visitante… Alguns contam que no interior da pirâmide está armazenada uma escultura negra de Ísis: difícil de verificar através das pequenas aberturas das paredes! Se você sonha com pirâmides, um desvio pelo Cemitério Père-Lachaise se impõe; além da tumba de Champollion, o decifrador dos hieróglifos – reconhecível graças a um obelisco – contam-se as dezenas as últimas moradas em forma piramidal que materializam as crenças dos indivíduos em uma vida após a morte. Mas não se engane: mesmo que as pirâmides remetam à época faraônica, muitas são aquelas que se inspiram de um modelo posterior. Os romanos já construíam tumbas em forma piramidal e seus conhecimentos errôneos da arquitetura egípcia acabaram gerando construções muito mais estreitas. É o caso das pirâmides do Père-Lachaise, mas igualmente daquela do Parque Monceau.
Meu périplo termina na rue de Sèvres, que atravessa os 6º, 7º e 15º arrondissements (distritos). É o número 42, no 6º arrondissement, que será minha última parada. Apoiada ao muro exterior do Hospital Laënnec (antigo Hospício dos Incuráveis), uma porta de templo egípcio é habitada por uma curiosa estátua usando o nemes e uma tanga com três abas de pano. Essa obra representa Antínoo, favorito do imperador romano Adriano, que perdeu tragicamente a vida durante o outono de 130 d.C. se afogando no Nilo. Divinizado pelo imperador, Antínoo toma às vezes a forma do deus Osíris, que morre e renasce. Ele segura entre seus punhos cerrados dois cântaros de água que se esvaziam em uma fonte. A Fonte do Fellah, chamada às vezes também de “Fonte egípcia” ou ainda de “Fonte do carregador de água” foi construída no início do século XIX e é ainda hoje amplamente desconhecida. Lê-se às vezes que outro Antínoo se esconderia em um pátio privado, não longe do Instituto de história da arte e arqueologia Michelet, no 6º arrondissement: eu ainda não pude verificar essa hipótese!
Cécile Petit, setembro de 2016
Traduzido do francês por Aline Pascholati
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