Cassio Justino, Adeline, pastel seco sobre papel, 50 x 35 cm, 2016.

A personagem representada por Cassio Justino na obra Adeline desafia o espectador. Ela nos olha fixamente, os lábios entreabertos. O que ela pensa quando nos observa? Seu olhar enigmático torna difícil adivinhar seus sentimentos. As brumas do fundo da pintura contribuem para essa imagem de mistério.

Seu penteado e o pouco que vemos de seus trajes, uma massa negra sobreposta por uma gola de renda branca, indica que ela nos fita de um tempo passado, testemunho da fascinação do jovem artista por fotografias antigas. Até mesmo o título da obra, um nome em voga em outra época, contribui para essa sensação. Porém, não existem indicações precisas de tempo e lugar. O fundo marrom desprovido de elementos cênicos é atemporal. As bordas escuras que se transformam gradualmente em uma área iluminada em volta do personagem o evidenciam – um recurso bastante usado em retratos.

A composição é caracterizada pelo contraste entre a jovialidade da mulher representada e o ar de passado da obra, acentuado pelo o uso magistral de uma técnica tradicional de dificuldade elevada, o pastel, característico da produção de retratos, sobretudo no período Rococó, no século XVIII, com destaque para o artista Quentin de La Tour.

Mas quem seria Adeline?

Os traços são emprestados de suas antepassadas, conhecidas através das fotografias fascinantes ao olhar do artista, que criou assim uma imagem atemporal de beleza e jovialidade passada. O nome Adeline, entretanto, não é aquele de nenhuma dessas mulheres do passado, mas de uma figura do presente, uma amiga do artista que lhe impressionou por seu espírito jovial. O título, então, contribui perfeitamente à imagem da obra, uma fusão entre passado, juventude e atemporalidade.