Já de início peço desculpas aos leitores mais modernos, pois a breve abordagem que aqui faço se dá sobre os livros físicos. Não que eu tenha qualquer coisa contra os livros digitais. Acho desnecessário o embate que muitas vezes é feito – “livros físicos X livros digitais”. Cada leitor tem a sua preferência, seja por gostar mais de uma plataforma que a outra, seja por ser conservador e optar por não querer conhecer as novidades que a tecnologia proporciona, seja ainda por qualquer outra razão – o fato é que não cabe qualquer crítica sobre uma escolha feita nesse sentido. Claro que num tom jocoso as manifestações de preferência são sempre válidas, mas apenas enquanto nesse nível da brincadeira. Enfim, cada um escolhe a maneira que entender mais aprazível de se ler.

Quanto a magia dos livros, falo de toda aquela mágica presente no ato de se ter o livro, de se possuir uma obra, de senti-lo, de tocá-lo, de ler com empolgação todas as suas páginas, de guardá-lo, de carregá-lo na bolsa, enfim, de contemplá-lo. O prazer também está no ter. Nesse aspecto, prezo pela propriedade dos livros. Alguns podem dizer que essa é uma postura um pouco egoísta, a saber, a de guardar os livros para si ao invés de fazê-los passar de mão em mão. Se assim de fato for, eu assumo essa adjetivação. Gosto de ter os meus próprios livros.

Aqui se dá toda uma diferença desse possuir enquanto sendo os livros físicos. Nesse caso, os seus livros ali estão, corpóreos, concretos num plano material, observáveis em toda a sua estrutura, podendo ser tocados, cheirados e sentidos. A sensação de possuir um livro é única.

Quem é que não gosta de uma boa estante de livros? Melhor ainda se forem os seus próprios livros. Uma estante repleta de livros desempenha uma função estética. Também funciona como uma fonte de consulta, onde várias obras estão à disposição, ali, de fácil alcance e acesso, a fim de que o leitor possa escolher um deles e desfrutá-lo. Proporciona também um sentimento de nostalgia, pois quando o leitor passa os olhos sobre aqueles livros já lidos, emoções afloram em seu íntimo. Os sentimentos mais diversos pululam no interior do leitor, os quais assim aparecem justamente pelas lembranças das leituras passadas. De igual modo, a estante de livros proporciona uma sensação de inquietude no leitor, ou até mesmo afobação. Isso quando são observados aqueles livros ainda não lidos e que se pretende logo ler. Há também eventualmente uma sensação de desespero – a qual, creio, assola quase todos os leitores. Esse desespero se faz presente nos leitores que compram mais livros do que conseguem ler (alguém não se inclui nessa?). Sim, a angústia surge muitas vezes como um soco no estômago quando o leitor se dá conta de que nunca terá tempo suficiente para ler todos aqueles livros pendentes. E como se acalenta essa angústia? Comprando mais livros. Entra aí uma tremenda sensação de bem-estar. E o círculo vicioso se inicia e nunca tem fim.

A graça disso tudo está presente justamente nessa série de emoções experimentadas pelo leitor. Sim, todos nós, leitores, sofremos com isso – tendo ou não uma estante repleta de livros. Mas penso que nos acumuladores essas emoções se dão com mais frequência, mesmo porque não poderia ser diferente, pois os possuidores de livros acabam tendo um contato muito mais habitual com aqueles mesmos livros – tanto os lidos, como os não lidos.

A magia dos livros está presente nisso tudo, sendo na verdade a abordagem aqui feita apenas parte dessa manifestação mágica proporcionada pelas obras. A magia está nos livros, nas histórias, na literatura, nas estantes, nos sentimentos, no leitor, enfim, nessa relação poligâmica que se dá entre todos esses fatores envoltos no universo literário.

Um livro é mágico pelo seu conteúdo. Um livro é mágico pela história que carrega consigo, a qual é relembrada a cada vez que o leitor contempla a obra na estante. Um livro é mágico pelo poder que exerce no leitor, exigindo que seja vislumbrado, de preferência, numa grande estante ao lado de vários outros livros. Um livro é mágico por exigir ser cheirado enquanto novo. Um livro é mágico pela sedução que realiza, convencendo o leitor que o retire da livraria e o leve para a estante de sua casa. Um livro é mágico pelo fato de que a literatura é mágica, não existindo outro caminho destinado ao livro que não também o da magia.

Disso tudo dito, não há outra maneira de se concluir que não reconhecendo a magia dos livros.

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Fonte da imagem:

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