Ninguém nunca saberá qual nome eu carregava. A partir de hoje, serei conhecido somente como “o suicida”, e as pessoas evitarão pensar em mim, enquanto secretamente insultam a fraqueza ou covardia que me levou a esse gesto. Os homens e mulheres são tão fortes, tão bravos, tão destemidos, e a ideia de que existam pessoas que não aguentam o peso insuportável da vida é algo que atemoriza pela sua proximidade: todos pensam em um fim cômodo, uma forma honrosa de colocar fim aos problemas, uma saída de cena no auge da experiência. A única diferença a nos separar é que dei o último passo, enquanto os demais preferem continuar carregando a sua miséria por todos os lados, em uma vida que se prolonga, indesejada, inoportuna. Nenhuma pessoa conhecerá qual angústia carcomia os meus pensamentos no momento em que decidi acabar com o sofrimento, disparando a arma contra o peito. A dor de existir é silenciosa, mas dilacera o espírito como uma adaga a se retorcer nas tripas. Ninguém imaginará o nome que escapou dos meus lábios quando o estrondo do tiro encheu o mundo. Entrarei para o rol dos covardes, para a lista de nomes a serem esquecidos ou mencionados somente em sussurros, nos entremeios de ruidosas festas; todos temerão que a minha covardia seja contagiosa. O suicida é a pessoa mais sozinha do mundo e, no quarto de hotel em que estou, o silêncio era absoluto até o disparo atravessar a noite. Ninguém será capaz de entender o alívio que se espalhou pelos músculos até então contraídos, tendo a bala como epicentro nervoso, quando a morte invadiu meu corpo com seus dedos repletos de gelado. Não terei sequer o consolo de uma lápide; ninguém nunca mais lembrará quem fui, a não ser em alguma risada indiferente ou algum comentário debochado. Eu sou aquele que não devia ter nascido.
Nas palavras de Anna, protagonista do belo filme Frantz, de François Ozon, “esse quadro me faz querer viver”.
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