Luke Newton, Axe series ONE – Rouge (Série Machado UM – Vermelho), resina de uretano, fones de ouvido, tinta, 13 x 7.8 x 2.6 cm, 2011.
Hoje falaremos, na verdade, de uma série e não de somente uma obra como geralmente fazemos, dado que essa série apresenta variações em diferentes cores de um mesmo objeto, comunicando exatamente a mesma ideia. Inclusive, veremos como essa multiplicidade do mesmo objeto tem a ver com a temática trabalhada pelo artista.
Trata-se da série de esculturas de Luke Newton, jovem artista britânico, retratando o que eu chamo de “iPods das cavernas”. Ele apresenta o famoso iPod envolto em uma camada de resina de uretano trabalhada de maneira a imitar a textura de pedra lascada, como os sílex colocados em pontas de lanças, machadinhos ou outros instrumentos pelos homens pré-históricos para a realização das mais diversas atividades. Ele mistura, então, a mais alta tecnologia da época – a série data de 2011 – a uma ferramenta primitiva. Da mesma maneira, o artista também já representou os botõezinhos do iPod em um escudo medieval. Ou seja, homem contemporâneo se esconde e se protege através da tecnologia, tal como aqueles do passado faziam com seus machados e escudos.
Se apropriando desse objeto do quotidiano, uma imagem facilmente assimilada por pessoas de todas as idades e classes sociais, essa série – assim como a maior parte da produção do artista – se aproxima do ready-made dadaísta e do pop art – quem não se lembra das latas de sopa de tomate de Andy Warhol? Ambos se apropriavam de imagens de objetos populares; no primeiro caso, retirando os próprios objetos de seus contextos e expondo-os como obra de arte, e, no segundo, representando-os através de serigrafias.
Entretanto, o processo criativo de Luke Newton, chamado por ele de “industrial home made”, é um pouco diferente e mais complexo, pois ele recria, paradoxalmente, esses objetos industriais de forma artesanal e meticulosa.
As diferentes cores indicam a busca por individualidade e a crescente personalização dos produtos, que, no entanto não são nada originais, gerando assim a ilusão da escolha. Afinal, sobretudo na Europa e Estados Unidos, onde o produto era mais barato, qual era a originalidade em ter um iPod?
Trata-se não somente de uma reflexão sobre a sociedade contemporânea, mas sobre a essência mesmo da humanidade. Inclusive, o próprio artista indica que o que ele faz não é uma crítica, mas sim uma constatação que deve levar o espectador a pensar.
*Sobre a coluna OBRA DE ARTE DA SEMANA: Aline Pascholati, Marina Franconeti e Wagner Galesco se alternam escrevendo sobre obras de arte de diversas épocas às terças-feiras.