Sentado, o boxeador não tem somente o peso da idade a prostrar a sua coluna, mas também a sombra de algo desconhecido que desce sobre seu corpo e lhe preenche de medo, algo que se mistura ao gosto amargo do sangue e à bile que tenta escalar a sua garganta. É a derrota que experimentou pela primeira vez e, agora, crava dentes ansiosos no seu espírito até então confiante e invencível. Então, é assim que os fracassados se sentem: cercados por rostos indiferentes, por risadinhas desconfortáveis, pela pena. Ele ainda está atordoado; não imaginava que o adversário fosse tão rápido, que seus golpes fossem tão potentes, que a sua resistência fosse tão fácil de ser batida. Os dedos cobertos de cortes e machucados ainda recendem a uma mistura enjoada de sândalo e de esperança; no rosto, cicatrizes espreitam os olhos impregnados de abismo e de angústia. A batalha está cada vez mais se afastando no passado, mas ele sente os grãos da areia do ringue ainda queimarem no seu rosto onde o sangue crava marcas ciumentas por entre riscos, feridas, hematomas. Perdeu alguns dentes, seu nariz está quebrado, os dedos fraturados, mas o pior é o espírito que, jogado sobre a pedra, sabe que aquela é só a primeira de uma sequência de derrotas. Agora que ele tombou diante da arrogância dos jovens, a tendência é cair cada vez mais, até se transformar em uma sombra do lutador inexpugnável de outrora, um andrajo que se arrasta por ringues cada vez mais fedidos e menores. A primeira derrota queima na sua memória, mas nada é pior do que a vergonha de descobrir que, afinal de contas, Theogenes, o boxeador, é só mais um humano prestes a ser engolido pela Velhice e pelo Medo.
