Paulo Climachauska, Projeto DegrauS II – Transborde, site specific, 2017.
Paulo Climachauska, Projeto DegrauS II – Transborde, site specific, 2017.
A instalação Transborde, de Paulo Climachauska, é a segunda obra do Projeto DegrauS, idealizado por Rosana Boaventura e curado por Adolfo Montejo Navas, que apresenta a cada três meses uma obra diferente nas escadas que levam ao Escritório de Arte e Centro de Estudos Ypsilone, em São Paulo.
Primeiramente, entendamos o que é uma instalação: trata-se de objetos dispostos em um local no intuito de expressar ou suscitar ao espectador uma ideia ou emoção. As instalações, próprias à arte contemporânea, podem ser do tipo site specific, ou seja, criadas especialmente para um local específico e somente exibidas naquele lugar, e aquelas que podem ser desmontadas e remontadas em diversos espaços, sem necessariamente conversar com a arquitetura ou temática do local.
Transborde, no caso, é uma instalação site specific criada para ser mostrada nas paredes ao lado das escadas do Escritório de Arte e Centro de Estudos Ypsilone, dialogando assim poeticamente com a arquitetura do lugar. Os copinhos de café se enchem gradativamente, conforme sobem-se os degraus, para transbordar no final das escadas, mostrando assim a busca gradativa pelo conhecimento, que, após um certo período de tempo e de saber adquirido, transborda, possibilitando assim a criação. Já se dizia na Renascença, pintura é cosa mentale – coisa mental. Ou seja, o aprendizado e o contato com diversas formas de saberes é importantíssimo para o processo criativo. Como trata-se de um local de osmose cultural, no qual são oferecidos cursos de história da arte e cursos práticos de criação, a obra não poderia ser mais acertada.
Também é importante lembrar que a escada é carregada de grande simbolismo, aparecendo desde no livro dos mortos egípcio, quanto no imaginário cristão, por exemplo, na figura da escada do Paraíso, significando assim a ligação entre mundos e a viagem iniciática.
Croquis da obra Transborde.
Croquis da obra Transborde.
Segundo Rosana Boaventura, idealizadora do espaço e do projeto:
No fundo, trata-se aqui, nesta escada de Ypsilone, de subir e descer os degraus de outra forma, menos protocolar e consensuais, em sintonia com o horizonte do Centro do estúdios (que está em cima, no andar superior), de reconhecer então os degraus desta escada como outros, na alteridade artística, sendo já um território imagético que abre a chegada a Ypsilone, portanto uma Sinalítica de novas imagens e sinais que conversa necessariamente com o espaço emblemático da escada e seus degraus tantas vezes invisíveis.
O vídeo Black Portrait (2017) é uma extensão da instalação, no qual o artista mostra transformação e questionamento, através do seu rosto, que já não é mais somente seu, mas um rosto que poderia ser de qualquer um, que aparece e desaparece refletido na tinta negra que escorre, em uma alusão à não fixação.
Imagens do vídeo Black Portrait.
Segundo o curador do projeto, Adolfo Montejo Navas:
O vídeo abriga assim imagens em movimento de um rosto cada vez mais anônimo e desfeito, rarefeito, embrenhado na matéria-prima das mudanças, aqui pintura-matéria que cobre e descobre, desvela e vela, qual espelho-objeto ativo, a feição pessoal sem tradução definitiva.
Na primeira edição do Projeto DegrauS, o próprio curador Adolfo Montejo Navas apresentou uma obra de sua autoria, enquanto que na terceira edição, em exibição atualmente, o artista Alexandre Dacosta mostra sua criação Quadro de Força.