Michelangelo Buonarroti, Pietà, mármore, 174 x 195 cm, 1498-1499. Conservada na Basílica de São Pedro, Vaticano.
Os visitantes da Basílica de São Pedro frequentemente se impressionam com a energia da Pietà, de Michelangelo, encomendada pelo cardeal francês Jean Bilhères de Lagraulas para adornar a capela do rei da França no Vaticano, talvez em homenagem a Carlos VIII, que havia morrido há pouco tempo. Além de ser uma das mais famosas obras do artista e de todo o período do Renascimento, trata-se da retratação de um tema muito forte. A Virgem Maria segura em seus braços – sobre seus joelhos, na composição escolhida pelo artista – seu filho morto. A Virgem em pietà, em italiano, ou Virgem em mater dolorosa, em latim, mostra o momento no qual o Cristo acabou de ser tirado da cruz e sua mãe o segura pela última vez antes que preparem o corpo para ser enterrado. Entretanto, o rosto da Virgem é sereno, assim como o do Cristo, e sem marcas do tempo, o que é curioso, afinal ela era uma mulher com idade suficiente para ser mãe de um homem de 33 anos. Sua serenidade é devida ao fato de que talvez ela já intuísse a sorte de seu filho? Sabia o que o esperava e se resignava à vontade de Deus? Seu semblante sereno e atemporal demonstra sua grandiosidade e santidade, apesar da dor humana de perder um filho. Além disso, sua magnitude é reforçada pela composição piramidal – a pirâmide é, inclusive, um símbolo da Santa Trindade – e pelo fato de que o artista escolheu esculpi-la ligeiramente maior do que o Cristo. Michelangelo era conhecido por sua terribilità, exatamente o caráter imponente de suas obras.
O artista também era chamado de divino, graças à perfeição da sua técnica, que vemos nessa escultura completada quando ele tinha somente 24 anos, algo que, além da força da composição e do tema, a tornou famosa. As dobras do manto da Virgem são particularmente impressionantes.
Michelangelo esculpiu o grupo todo em um só bloco de mármore – ele dizia que via um anjo em um bloco de mármore e o libertava de lá. Vale notar que o mármore é mais tenro quando retirado da pedreira, sendo assim possível esculpi-lo mais facilmente, endurecendo com o passar do tempo.
É ainda interessante notar que é a única obra assinada do artista. Na faixa que atravessa o peito da Virgem, ele esculpiu a frase “MICHAEL A[N]GELUS BONAROTUS FLOREN[TINUS] FACIEBA[T]”, significando algo como “o florentino Michelangelo Buonarroti o fez” – as poucas assinaturas na época eram em latim e escritas dessa maneira. Há várias anedotas de por que ele teria assinado a escultura. Alguns relatos contam que os numerosos visitantes que vieram vê-la teriam dito que se tratava da obra de outro artista ou não acreditavam que alguém tão jovem a tivesse executado, e, Michelangelo, que estava parado próximo à estátua e ouviu tudo, aproveitou a noite quando o local estava vazio para assinar seu nome.
Ainda há outro fato curioso em relação à escultura. Em 1972, durante a Pentecostes, Laszlo Toth, um visitante desequilibrado atacou a obra com um martelo, quebrando parte do nariz da Virgem. Depois de restaurada, a estátua foi colocada atrás de um vidro blindado, no intuito de impedir futuros danos.
Bibliografia:
Susie HODGE, Breve história da arte, São Paulo, Editora Gustavo Gili, 2018.
Andrew MARTINDALE, O mundo da arte: O Renascimento, Rio de Janeiro, Expressão e Cultura, 1979.
Bruno NARDINI, Michelangelo: Biography of a Genius, Milão-Florença, Giunti, 1999.
Fonte das imagens:
https://m.epochtimes.com.br/pieta-deslumbrante-obra-michelangelo/
Triste muito triste o nosso momento político no Brasil, desde o impeachment de nossa legítima presidente, tendo em vista mudanças de paradigmas. Aline Pascholati, ilustra o sofrimento dos corações das mães que perdem seus filhos em prol das crueldades de diversos fatores cruéis que assaltam o cotidiano das famílias com a “Piettà de Michelangelo” que nos move em ricas reflexões. Parabéns querida, foste contemplada e muito abençoada em nos trazer através de seus estudos e pesquisa,.tão maravilhosa e importante obra.
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