Paul Setúbal, Armas para os deuses I, II e III, bronze polido, 2017. Edição de 4 + PA.
As esculturas Armas para os deuses, de Paul Setúbal, atraíram meus olhos à primeira vista por sua forma curiosa – espadas costumam ser retas, ou, no máximo, curvas, no caso das orientais, não é? – que reproduz as folhas da planta dita espada de São Jorge. Mais tarde, entrevistando o artista e lendo sobre seu trabalho, descobri que também existe uma planta comumente denominada espada de Santa Bárbara – diferindo da de São Jorge por ser mais sinuosa e possuir detalhes em amarelo -, que, assim como a primeira, associada ao orixá guerreiro Ogum, São Jorge no sincretismo umbandista, é ligada à deusa guerreira dos ventos, Oyá ou Iansã, Santa Bárbara na umbanda, e também é símbolo de proteção.
O artista, oriundo do interior de Goiás, passou sua infância cercado desse sincretismo religioso, sendo a figura da benzedeira, essa mulher poderosa nas comunidades do interior do país que ajudava a criar as crianças e abençoá-las, uma figura viva em sua memória. Assim, um episódio de sua infância é extremamente importante na criação dessas obras, conforme contou o artista. Trata-se do ritual no qual a benzedeira o golpeava com as folhas das espadas de São Jorge e Santa Bárbara no intuito de protegê-lo, pois, sendo uma criança pequena e magra, apanhava das maiores e mais velhas, sempre tentando se defender. Esse ato de apanhar da planta, que lhe deixava marcas físicas, despertava, segundo ele, um senso de proteção, e o artista, inclusive, depois começou a praticar capoeira – um treinamento de autodefesa democrático, para todo tipo de corpo -, sendo assim uma história de mudança de vida e superação.
Paul Setúbal, Armas para os deuses I, bronze polido, 39,5 x 10,5 x 2,5 cm , 2017. Edição de 4 + PA.
Quanto à produção das esculturas, Setúbal usou de modelo exatamente as plantas de proteção que possui em sua própria casa para esculpi-las em tamanho real, primeiro moldando-as em massa de modelar, sendo assim o processo escultórico manual também importante, e, em seguida, fundindo-as em bronze. O acabamento polido dourado coloca em evidência o aspecto divino das espadas, assim como as caixas de madeira de lei – madeira que, inclusive, entrou recentemente em extinção – na qual elas são apresentadas, nos parecendo dessa maneira objetos antigos, de museu, objetos sagrados, afinal são armas de deuses. Apesar disso, esses utensílios são quase funcionais, pois, produzidos de maneira próxima às espadas da era do bronze, se afiadas suas lâminas, poderiam cortar e servir ao seu propósito bélico.
Finalmente, seus cabos – notem que são diferentes entre si – foram moldados diretamente de cabos de espadas de brinquedo, de plástico, remetendo assim novamente à ideia da infância e ao imaginário coletivo da proteção.
Paul Setúbal, Armas para os deuses III, bronze polido, 80 x 15 x 4,5 cm, 2017. Edição de 4 + PA.
Paul Setúbal, Armas para os deuses II, bronze polido, 60,5 x 14,5 x 3 cm, 2017. Edição de 4 + PA.
Fontes/Links:
Entrevista com o artista.
Camila Bechelany, “Memórias de confronto, marcas da resistência” in Paul Setúbal, [Online]. Consultado em 03/06/2019.
https://www.paulsetubal.com/ccsp-corpo-fechado-2019
Daniela Name, “Corpo Fechado – Paul Setúbal” in Revista Caju, [Online]. Consultado em 03/06/2019.
http://revistacaju.com.br/2018/11/19/corpofechado/
Daniela Name, “Um santuário deve ser mesmo a urgência do impossível – Corpo Fechado, C Galeria” in Paul Setúbal, [Online]. Consultado em 03/06/2019.
https://www.paulsetubal.com/corpo-fechado-2018
Fonte das imagens:
Imagens do artista.
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Olá
Desejo espadas medievais e santas busco a de São Miguel e logo após as de São Jorge, Santa Barbara e Joana dark
Sou de pato Branco PR
What 46984137169
Muito obrigado
Grato
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