A aflição que nos toma conta quando aquele precioso livro simplesmente desaparece do lugar em que era para estar. O desespero quando buscamos por aquela determinada obra que deveria estar na estante, mas que quando procurada, não está mais lá. A angústia que nos assola quando damos por conta de as buscas foram em vão: sofás revistados, camas reviradas, mensagens questionadoras enviadas e ligações em tom indagativo realizadas resultam em um nada desolador. Assim surgem essas emoções pesarosamente sentidas quando se percebe que o livro sumiu.
Quem nunca passou pela tortuosa situação de notar a ausência de um livro sem ter qualquer ideia de onde pode estar? Um turbilhão de pensamentos passa pela cabeça do leitor numa vã tentativa de se manter a calmaria na tempestade. O livro realmente sumiu? Teria sido emprestado para alguém? Foi esquecido em algum lugar? Caiu atrás da estante? Foi surrupiado por alguma visita má intencionada? Teria morrido ou sido arrebatado? Foi transportado para algum universo literário paralelo? As possibilidades são várias, ensejando na aflição amargada por aquele que busca juntar eventuais pontas soltas com o fito de descobrir onde o livro pode estar. O fato é que o livro sumiu e o leitor deve dar conta do mistério a fim de que a paz de espírito acalente o seu íntimo que é solapado pela constatação da ausência daquilo que almeja encontrar.
O leitor pode até contar com a ajuda de terceiros nessa busca, ainda mais ao considerar que dentre as possibilidades que explicam o sumiço da obra estão aquelas que envolvem diretamente outros: empréstimos (pedidos ou não) e recordações que podem estar mais frescas na memória que não a do leitor (“Você levou o livro para a faculdade naquele dia da reunião do seu grupo, lembra? Pode ser tenha esquecido por lá!”), por exemplo. Mas a iniciativa da busca deve partir sempre do leitor do livro perdido – é ele que deve conduzir a procura por aquilo que se perdeu. Ainda, no caso de se contar com a ajuda de outras pessoas, o leitor deve estar ciente do risco de se fomentar aquela irritação que já se faz presente em seu peito. É que como não bastasse o desespero que já conturba o íntimo do leitor, algumas vezes a ajuda que acaba recebendo de terceiros se limita a chavões ditos como “o livro deve estar no último lugar que você o deixou” – o que, convenhamos, pouco (ou nada) ajuda na pesquisa desesperada que está sendo feita.
A forma com a qual cada leitor acaba lidando com situações como essa depende de alguns tantos fatores – afinal, o que define se a busca será mais calma ou desesperada? As características individuais de cada um é, talvez, o principal desses fatores que acaba por determinar o ânimo do leitor durante o processo de tentativa de encontro do livro sumido. Para os mais calmos, resolutos, firmes, as buscas tendem a ser mais tranquilas. Já para os mais agitados, alvoroçados, férvidos, a pesquisa pela obra ausente tende a ser mais tempestuosa. Mas para além do perfil do leitor, situações outras podem contribuir para o estabelecimento do cenário no qual a busca ocorre. Se o livro possui algum tipo de significado especial para o leitor (ganhou de um certo alguém, recebeu de presente numa ocasião determinada, está autografado pelo autor…), a aflição que toma conta quando da constatação do sumiço certamente será maior do que no caso de um livro que, mesmo que a contragosto, pode ser substituído por outro exemplar que é vendido em qualquer livraria da cidade ou na internet. Há também a hipótese de o livro sumido sequer pertencer ao leitor – estava sob seus cuidados por ter sido emprestado de um amigo, de um professor ou da biblioteca. Nesse caso, o desespero pode ser maior por acabar envolvendo um terceiro diretamente interessado na obra então ausente, tendo o leitor de lidar ainda com as explicações para aquele a quem o livro pertencia.
Não apenas essas, mas tantas outras situações diferentes e particulares acabam ensejando no estabelecimento do ânimo do leitor que percebe que um dado livro sumiu. São sempre aflitivas as hipóteses possíveis, uma vez que quaisquer sejam os motivos que determinem a particularidade de cada sumiço, a angústia, em maior ou menor nível, sempre se faz presente – afinal de contas, o livro está ausente!
Perder um livro enfraquece o espírito de qualquer leitor. Mesmo quando o exemplar pode ser substituído por outro, fica o pesar que sempre será lembrado por aquele que lê. No casos em que o prejuízo é maior (sentimental ou financeiro), o episódio deixa uma marca na alma ainda mais significativa. Cabe ao leitor, caso não tenha êxito na busca pelo livro perdido, aprender a lidar e conviver com o sumiço.
Quando o livro some, a aflição entra em cena. Aos leitores que estão na busca de algum livro perdido: que a angústia sentida possa ser acalentada pelo encontro da obra!
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