Lewis Hine, Cotton Mill Girl (Garota da Fábrica de Algodão), cópia de gelatina de prata, 1908. Conservada na Coleção Lewis Hine, Biblioteca do Congresso, Washington, EUA.
A fotografia Cotton Mill Girl, ou Garota da Fábrica de Algodão, em português, mostra uma menina ao lado de um imenso tear na fábrica que trabalha, no estado da Carolina, nos Estados Unidos. Na época em que foi tirada, no início do século XX, era comum que crianças de famílias pobres trabalhassem desde muito cedo. Lewis Hine, posteriormente contratado pelo Comitê Nacional do Trabalho Infantil americano, queria denunciar justamente as precárias e até mesmo perigosas condições nas quais essas crianças trabalhavam e instigar mudanças nas leis de trabalho infantil. Assim, o americano visitou empresas sob os mais diversos pretextos, desde vendedor de Bíblias até fotógrafo industrial e vendedor de seguros, e documentou a realidade do trabalho infantil nos Estados Unidos. Além de sua câmera, ele carregava um bloquinho escondido em seu bolso, no qual anotava particularidades sobre as crianças fotografadas. Ele algumas vezes descobria suas idades verificando as datas de nascimento nas Bíblias de suas famílias e calculava a altura de seus modelos em relação aos botões de seu próprio paletó. A garota dessa foto, Sadie Pfeifer, tinha oito anos e media cerca de 1,20 m quando foi fotografada.
Antes desse projeto, o sociólogo e educador de formação, já havia se interessado em documentar a realidade dos imigrantes em Ellis Island, em Nova Iorque, em 1905; e posteriormente dos trabalhadores nas vilas siderúrgicas de Pittsburgh.
Ao olhar para Cotton Mill Girl, podemos notar que, além do objetivo social, a preocupação estética da imagem também é levada em conta pelo artista. Há o contraste entre a máquina – imensa, rígida, fria – e a menina – pequena e humana, sua pele macia e suas saias fluidas. Essa oposição entre a menina e a enorme máquina, conseguida através da fotografia tirada a distância, faz com que a pouca idade da modelo fique ainda mais em evidência. Segundo Val Williams, “a longa fileira de bobinas transmite a ideia de trabalho repetitivo, revelando o fato de que a criança está presa em um processo mecânico infinito”. Ela também está bastante longe da colega de trabalho mais próxima, que aparece como um vulto ao fundo da imagem, sem poder se comunicar com ela.
A luz ainda possui um papel importante na composição, acentuando os contornos da máquina e iluminando a menina de costas, seu rosto delineado nas sombras. Em uma outra imagem de Hine tirada no mesmo local, podemos ver um uso ainda mais interessante da luz: a única trança da menina do lado esquerdo da cabeça parece uma planta que cresce em direção ao sol.
Lewis Hine, Cotton Mill Worker (Trabalhadora da Fábrica de Algodão), cópia de gelatina de prata, 1908. Conservada no The J. Paul Getty Museum, em Los Angeles, Estados Unidos.
Após a publicação dessas imagens nos livros Child Labor in the Carolinas e Day Laborers Before Their Time (Trabalho Infantil nas Carolinas e Trabalhadores Diários Antes do Seu Tempo), em 1909, além de em cartazes e periódico que defendiam as reformas nas leis de trabalho infantil, a sociedade acabou se mobilizando, e o número de crianças trabalhando caiu pela metade entre 1910 e 1920.
Bibliografia/Links:
Ian HAYDN SMITH, Breve história da fotografia, São Paulo, Gustavo Gili, 2018. Trad. Edson Furmankiewicz.
Compre esse livro aqui (comprando qualquer produto na Amazon através desse link, você ajuda a manter o Artrianon e não paga nada a mais por isso).
Val WILLIAMS, Quando a fotografia é genial, São Paulo, Gustavo Gili, 2014, p. 18-19. Trad. Edson Furmankiewicz.
Compre esse livro aqui (comprando qualquer produto na Amazon através desse link, você ajuda a manter o Artrianon e não paga nada a mais por isso).
“Cotton Mill Girl” in TIME 100 Photos, [Online]. Consultado em 08/11/2020.
http://100photos.time.com/photos/lewis-hine-cotton-mill-worker
“Cotton-Mill Worker, North Carolina, Lewis Wickes Hine” in J. Paul Getty Museum, [Online]. Consultado em 08/11/2020.
https://www.getty.edu/education/teachers/classroom_resources/curricula/exploring_photographs/downloads/cotton_mill.pdf“
Lewis W Hine” in Enciclopaedia Britannica, [Online]. Consultado em 08/11/2020. https://www.britannica.com/biography/Lewis-W-Hine
“Sadie Pfeifer, Spinner in Cotton Mill, North Carolina” in The J. Paul Getty Museum, [Online]. Consultado em 08/11/2020.
http://www.getty.edu/art/collection/objects/61895/lewis-w-hine-sadie-pfeiffer-spinner-in-cotton-mill-north-carolina-american-negative-1910-print-about-1920s-1930s/
“Sadie Pfeifer, a Cotton Mill Spinner, Lancaster, South Carolina” in The Art Institute of Chicago, [Online]. Consultado em 08/11/2020.
https://www.artic.edu/artworks/11344/sadie-pfeifer-a-cotton-mill-spinner-lancaster-south-carolina
“The Photography of Lewis Hine: Exposing Child Labor in North Carolina, 1908–1918” in North Carolina Museum of History, [Online]. Consultado em 08/11/2020.
https://www.ncmuseumofhistory.org/exhibits/lewis-hine
Fonte das imagens:
http://100photos.time.com/photos/lewis-hine-cotton-mill-worker