A 18ª edição da SP-Arte, a maior feira de arte do Brasil, foi muito aguardada por galeristas, colecionadores e visitantes. É a primeira vez desde o início da pandemia que o evento, que ocorreu entre 6 e 10 de abril, acontece no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera. Em 2020, não houve exposição, enquanto em 2021, a mostra aconteceu na ARCA, no bairro da Vila Leopoldina, também em São Paulo, capital.

A mostra foi bastante visitada – cerca de 5000 visitantes por dia – e alguns dos galeristas se dizem contentes com as vendas, apesar dos problemas decorrentes da pandemia e do atual cenário mundial.
Para os que não conhecem a feira, é importante saber que esta é dividida em diversos setores: um que compreende galerias do mercado secundário – ou seja, que revendem obras de criadores consagrados que já foram compradas anteriormente ao menos uma vez -, outro com galerias que trabalham principalmente com o mercado primário – na maior parte das vezes, vendem as obras saídas dos ateliês dos artistas -, além de um espaço inédito com coletivos, organizações artísticas autônomas e obras de artistas que não são representados por galerias, com curadoria de Felipe Molitor; e uma seção dedicada ao design e às editoras de livros de arte.

Quanto às obras expostas, vimos várias peças de Frans Krajcberg, artista polonês naturalizado brasileiro, que se preocupava com a questão da preservação do meio ambiente, muito antes do assunto estar na moda, e trabalhava esculpindo madeira oriunda principalmente de desmatamento. A maior parte dos exemplares desse artista na feira eram aqueles tradicionais com o que parecem ser flores vermelhas, entretanto, o Paulo Kuczynski Escritório de Arte mostrou uma obra bastante única, com formas sinuosas não recobertas de tinta. Alfredo Volpi – o pintor das bandeirinhas – também esteve muito presente, além de outros nomes icônicos do modernismo, como Di Cavalcanti.




Vimos também algumas obras de Adriana Varejão, ainda mais em destaque graças a sua exposição retrospectiva na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Uma de suas Saunas foi apresentada pela Galeria Almeida & Dale, e o espectador atento deve ter notado a maestria técnica da pintora ao representar um ambiente em três dimensões, repleto de diversos planos e sombras, através de somente uma cor.

No estande da Almeida & Dale, faziam companhia à Adriana Varejão outros grandes nomes da arte nacional e internacional contemporânea – Beatriz Milhazes, Anish Kapoor, Tunga, Lygia Pape, George Condo, Keith Haring, Paula Rego – e moderna – Alfredo Volpi, Cândido Portinari, Mira Schendel, Antonio Bandeira etc.




Nesse espaço, inclusive, descobri um artista que ainda não conhecia, Sidney Amaral, cujo espólio é gerenciado pela galeria, e fiquei apaixonada por seu trabalho, que retrata a vida nua e crua dos negros e pobres, com algumas obras que relativizam a noção de luxo, com o uso do ouro em objetos cotidianos, tais como chinelos de dedo e chuveiros. O artista foi pioneiro no movimento que busca dar mais espaços aos artistas negros, ainda minoritários no mercado, e à representação de pessoas negras e sua cultura – e outras minorias, de maneira geral –, que vem ganhando cada vez mais força no mundo da arte. Assim como vários artistas negros fazem atualmente, Sidney Amaral também se autorretratava em algumas de suas criações.



A feira também foi um momento de reencontro com obras de artistas que já aprecio há muito tempo, por exemplo, Cildo Meireles, um dos mais importantes artistas contemporâneos brasileiros, representado pelo Mul.ti.plo Espaço Arte, que mostrou algumas obras ao mesmo tempo críticas e lúdicas; além do famosíssimo espanhol Manolo Valdés, no estande da Opera Gallery, uma das poucas galerias internacionais a participar da exposição. Eu conhecia, principalmente, as esculturas de Valdés que são compostas da silhueta de um rosto rodeado de borboletas, nas mais diversas dimensões, mas uma escultura em resina – que enganava os espectadores que pensavam ser feita de cristal de rocha –, inspirada pelas infantas das obras de Velázquez, foi a que mais me encantou; minha peça preferida da mostra toda.







Algumas peças que remetem ao tecnológico e ao eletrônico também me chamaram a atenção, tal como o simpático grilinho movido a energia solar de Paulo Nenflidio, que emite os sons do inseto quando exposto a uma fonte de luz – um achado. A arte digital também se fez presente, através de videoarte e vídeo instalações, com alguns estandes se dedicando exclusivamente a criações nesse formato. Aquelas idealizadas pela jovem artista transdisciplinar Aun Helden, que também descobri durante a exposição e busca desconstruir padrões de gênero e sexo através de obras que expressam suas próprias angústias, me chamaram a atenção por seu aspecto macabro e inquietante, uma de suas instalações lembrando, em minha opinião, mesas de necrotérios.


Fonte das imagens: Divulgação e fotografias da autora do texto
Referências:
Entrevistas e conversas com galeristas da Mul.ti.plo Espaço Arte, Opera Gallery, Almeida & Dale Galeria de Arte, Paulo Kuczynski Escritório de Arte e Galeria Belizário.
Releases e material de divulgação compartilhado pelas galerias.
“As performances (e a própria imagem) de Aun Helden: chocante!” in Lillian Pacce. Consultado em 15/04/2022. https://www.lilianpacce.com.br/e-mais/as-performances-e-a-propria-imagem-de-aun-helden-chocante/
Carolina Moraes, “SP-Arte termina com vendas lentas e colecionadores jovens chamando a atenção” in Folha de S. Paulo. Consultado em 15/04/2022. https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2022/04/sp-arte-termina-com-vendas-lentas-e-colecionadores-jovens-chamando-a-atencao.shtml
Website de Aun Helden
https://www.au-n.com/
Site oficial da SP-Arte
https://www.sp-arte.com
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