Os corpos alfinetados do artista Dee Lazzerini

Formado em odontologia e doutor em engenharia de biomateriais, o hoje artista, Dee Lazzerini utiliza de seu conhecimento para criar esculturas orgânicas cheias de alfinetes bastante intrigantes.

O artista conta que a partir de grandes blocos de poliuretano ele começa a esculpir até encontrar a escultura que, segundo ele, já estava ali dentro, ele só a trouxe para fora, assim como dizia Michelangelo, que as esculturas já estavam dentro dos blocos de mármore Carrara e que ele somente as trazia para fora. Após encontrar sua forma o artista cria uma membrana de alfinetes em volta dela, para protegê-la e torná-la intocável, ali ele guarda sua vida e suas experiências, mas, para protegê-las é preciso perfurar todo esse corpo.

Em algumas esculturas Dee vai além e coloca alguns pontos de experiências, como o crochê, praticados por sua mãe e avó. É interessante notar que nesse pedaço os alfinetes são colocados ao contrário, assim se alguém os tocar irá se machucar, enquanto no restante do corpo não.

Outra reflexão bastante interessante é sobre como nos machucamos para nos protegermos, como colocamos nossos espinhos para fora para nos protegermos de qualquer aproximação. Demorei muitos meses para conseguir escrever esse texto pois queria que ele conseguisse trazer a complexidade da obra e como ela me afetou pessoalmente. Você já sentiu a dor de se olhar e ver o quanto feriu a si mesmo por conta de um procedimento estético? Não sou contra procedimentos estéticos, mas quando passei por isso me senti muito assustada, como pude fazer aquilo comigo mesma? Quantas vezes nos machucamos para nos proteger das críticas do mundo, das nossas próprias críticas? Ser imperfeito é perfeito. A perda de alguém pode ser tão dolorosa a ponto de colocarmos camadas em cima de nossas próprias lembranças para torná-las inacessíveis a nós mesmos e não sofrermos. Ou para protegê-las da efemeridade do tempo. Dores, abusos e outras feridas já fizeram eu me alfinetar para impedir que mais sofrimento chegasse, mas os alfinetes colocados ao contrário também afastaram as alegrias.

Assim como nas esculturas de Dee, criamos camadas de alfinetes como forma de proteção, de sermos intocáveis, sem perceber que elas nos machucam e a aqueles que tentam se aproximar, por isso esse trabalho, assim como tantas outras artes, é tão necessário e interessante, pois toca cada um de uma forma dependendo do que aquele indivíduo vive, já viveu ou do que ele precisa naquele momento, arrisco até mesmo dizer o quanto a arte me faz crescer em alguns e me compreender em alguns momentos.

Referências: Entrevista com o artista Dee Lazzerini
Fonte das imagens: Divulgação.

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