Alexia Sinclair, Isabella of Spain (Isabel da Espanha), Metallic C-Type, 635 x 635 mm, 2007. Edição 10 + AP
Já falamos de Alexia Sinclair aqui no Obra de Arte da Semana através da fotografia Campo de Sonhos, mas é impossível não se sentir impelido a tratar de outras obras da artista, sempre tão belas e cheias de significado. Como mencionado anteriormente, a fotógrafa estuda minuciosamente o tema e coloca em suas imagens elementos que remetam à história do personagem representado ou o significado a ser passado ao espectador.
Em Isabel da Espanha, nos deparamos com dois temas comuns à Campo de Sonhos. Ambas as fotografias representam rainhas que realmente existiram, respectivamente Isabel da Espanha e Maria Antonieta, além do tema marítimo, bastante presente no trabalho da artista – seu avô era capitão e após a aposentadoria construía navios em miniatura, contando-lhe também muitas histórias do mar. Na obra La Belle Poule, da série Les Antoinettes, de 2013, sua fascinação pelo mar também é transposta em um detalhe na imagem.
Voltando à obra de hoje, que faz parte da série The Regal Twelve (As Doze Reais, em tradução livre), composta de imagens de grandes rainhas, a mulher representada é Isabel de Castela, a Católica. (1451-1604). Seu casamento com o rei Fernando de Aragão unificou dois reinos que compõe a atual Espanha, sendo assim de grande importância para sua fundação, e juntos os soberanos empreenderam a reconquista dos territórios perdidos para os mouros na península ibérica e patrocinaram as viagens de Colombo ao novo mundo.
Os objetos que rodeiam a personagem, adicionados digitalmente à imagem, remetem a detalhes de sua história. O navio que ela segura entre as mãos e fita fascinada obviamente à liga aos descobrimentos. Seu olhar sonhador pode ter relação com a imaginação europeia do que havia de exótico nas terras distantes. Ainda sobre o tema dos descobrimentos, temos as pimentas que simbolizam a volta de Colombo do novo mundo trazendo ricos tesouros, especiarias e metais preciosos. Esses metais são representados pelas moedas espalhadas pela composição, moedas de ouro inca com a efígie dos soberanos sobre suas faces, que realmente existiram.
O terço e a Bíblia em seu colo, reprodução do livro de horas que a rainha realmente possuía, faz alusão ao seu fervor religioso, enquanto que a pilha de livros ao seu lado liga à erudição. O mais importante é a pena vermelha pousada sobre os livros, que representa as mortes causadas pela Santa Inquisição. Ao fundo, ainda sobre o tema da piedade, podemos ver a pintura Madona dos reis católicos (14901495), em escala imaginária, que representa o casal real e alguns de seus filhos ajoelhados aos pés da Virgem e do menino Jesus. É interessante notar que o inquisidor Pedro de Arbués, assassinado em 1485, figura à direita da composição, atrás da rainha e sua filha, com uma espada sobre seu peito, símbolo do martírio cristão, enquanto que, à esquerda, no mesmo local atrás do rei, foi identificado o frei dominicano Tomás de Torquemada, inquisidor geral.
Mestre da Madona dos reis católicos, Madona dos reis católicos, 123×112 cm, 1491-1493. Conservada no Museu do Prado, Madri, Espanha.
Bibliografia, fontes e links:
DRUMMOND NETO, R. Rainhas Trágicas: Quinze mulheres que moldaram o destino da Europa. 1ª Ed. Lisboa, Vogais, 2016.
https://alexiasinclair.com/collections/the-regal-twelve#isabella-of-spain
https://www.instagram.com/alexiasinclair/
https://artrianon.com/2017/08/01/obra-de-arte-da-semana-campo-de-sonhos-de-alexia-sinclair/
Fonte das imagens:
https://alexiasinclair.com/collections/the-regal-twelve#isabella-of-spain
Linda obra de arte! Com certeza retrata os mais refinados gostos dos nobres da antiguidade, esses sim sabiam apreciar uma obra de arte!
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