Caspar David Friedrich, As idades do homem ou As etapas da vida, óleo sobre tela, 73×94 cm, 1834. Conservada no Museum der bildenden Künster, Leipzig, Alemanha.

A alegoria das idades do homem ou etapas da vida é um tema frequente em pintura, explorado por inúmeros artistas: Ticiano, Giorgione, Van Dyck, entre outros. Aqui, Friedrich o representa de maneira bastante pessoal: o idoso de costas é um autorretrato do artista que morreria seis anos mais tarde, trajando roupas usadas pelos seguidores das forças liberais nacionais denunciados como “demagogos” na Alemanha restauradora; o homem de cartola, mais jovem, é o sobrinho de Friedrich; as duas crianças pequenas são seus filhos mais novos; e a moça sentada próxima a elas também é sua filha. Eles estão em uma praia real, ao contrário das paisagens imaginárias geralmente pintadas pelo artista, no mar báltico, em Utkiek, próximo à cidade natal do artista, Greifswald, na região da Pomerânia, que na época havia acabado de passar do domínio alemão para a Suécia. Há uma bandeira da Suécia nas mãos do garotinho, que representa a lealdade do artista para com esse país, com a religião católica – proferida na Suécia, em contrapartida à protestante da Alemanha – e com o ducado da Pomerânia, sendo também um símbolo de liberdade. A obra seria, então, uma pintura pessoal, para ser mostrada somente aos seus próximos.

Além dos óbvios personagens de idades diferentes representando as idades do homem, há vários outros símbolos ligados ao tema. Os cinco navios se afastando da costa estão em distâncias diferentes desta, ou seja, em estágios diversos de suas respectivas viagens, tal como as pessoas na praia, também em número de cinco, estão em diferentes etapas da vida. A embarcação içando suas velas, no centro da composição, na direção das crianças, parece protegê-las, evocando todas as possibilidades infinitas da juventude. Sua posição central realça a importância das crianças na composição e seu papel na continuação da vida. Discute-se se o navio representando o fim da vida seria aquele próximo à costa, ou seja, terminando sua viagem, ou os navios que estão mais distantes, perto da linha do horizonte, rumo ao desconhecido, representando a viagem ao além. O certo é que o barco de cabeça para baixo entre as pedras, no plano mais próximo ao espectador, lembra a forma de um caixão, mostrando assim a morte próxima do idoso, ou seja, um memento mori – espécie de lembrete da inexorabilidade da morte que alcança todos. Seria também o pôr-do-sol uma alusão ao fim da vida, ligado ao idoso, e a esperança de um novo dia relacionada às crianças?

A paisagem marítima ao fundo lembra aquela de A lua se levantando no mar. Ambas as pinturas possuem seres humanos pequenos frente a uma grande paisagem natural, composição típica do artista, correspondendo assim ao ideal de sublime alcançado através da contemplação da grandeza bela e terrível da natureza presente nas pinturas de Friedrich. Em As idades do homem, a contemplação é ao mesmo tempo melancólica, devido à percepção da mortalidade – o artista já era idoso -, junto à constatação da pequenez humana em comparação à imensidão da paisagem, e otimista, graças às crianças – filhos do artista – e ao navio relacionado a elas no centro da composição, mostrando-as como o futuro e a continuação da vida.

Bibliografia:

Matilde BATTISTINI, Symboles et Allégories, Hazan, Paris, 2004. p. 94-97.

História ilustrada da arte: os principais movimentos e as obras mais importantes, São Paulo, Publifolha, 2016, p. 246-253

Umberto ECO (Dir.), Storia dela Bellezza, Bompiani, Milão, 2004, p. 274-283.

Museum der bildenden Künste Leipzig. Consultado em 09/01/2018.
https://archiv.mdbk.de/sammlungen/detailseiten/caspar-david-friedrich/index.html

Fonte das imagens: Wikipédia.