OBRA DE ARTE DA SEMANA: Forty Part Motet, de Janet Cardiff, no Inhotim

 
Janet Cardiff, Forty Part Motet (A reworking of “Spem in Alium” by Thomas Tallis 1573), instalação sonora em quarenta canais, 14 minutos, 2001. Conservada no Inhotim, em Brumadinho, Brasil.

Forty Part Motet é uma daquelas obras de arte conceitual que podem “não parecer uma obra de arte” à primeira vista ao visitante leigo, mas que o impactam da mesma maneira, sem necessidade de ler as famosas plaquinhas para entender a obra, pois grande parte dela é uma experiência sensorial, não racional.

A artista conseguiu esse efeito através da gravação das quarenta vozes dos cantores do coro da Catedral de Salisbury, na Inglaterra (baixo, barítonos, altos, tenores e uma criança soprano), em quarenta microfones diferentes. A sensação de transcendência e espiritualidade foi conseguida graças à composição escolhida, Spem in alium nunquam habui (Eu nunca coloquei minha esperança em nenhum outro [Deus]), de Thomas Tallis, criada em 1573, provavelmente em homenagem ao 40º aniversário da rainha Elizabeth I. Trata-se de um moteto – daí o título da obra de Cardiff ser Forty Part Motet, Moteto para Quarenta Partes, em tradução livre -, um tipo peça para diversas vozes geralmente escrita a partir de um texto sacro e sem o acompanhamento de instrumentos musicais, sendo a obra de Thomas Tallis considerada uma das composições polifônicas de maior complexidade já criadas.

A instalação posiciona quarenta alto-falantes representando os quarenta cantores, organizados círculo, em oito grupos de cinco cada um. O espectador pode caminhar entre os alto-falantes se aproximando ora de um, ora de outro, tendo a voz mais próxima mais alta e clara, ou se colocar no centro, ouvindo assim a composição como um todo. Dessa maneira, coma  ajuda da tecnologia, o espectador pode se sentir em meio ao coro, de uma maneira que não seria possível em uma apresentação, pois os ouvintes geralmente ficam frente ao coral completo. A qualidade do som é excelente, assim, se estiver de olhos fechados, é possível realmente acreditar que os sons que se ouve provêm de pessoas que estão ao seu lado. É interessante notar que quando tocando ou cantando em grupo, perceber os sons emitidos pelos que estão ao seu lado é tão importante quanto cantar ou tocar. Ou seja, temos aqui uma reflexão das relações e espaços interpessoais, do coletivo e do individual.

É uma experiência sensorial interessantíssima e conforme o espectador se move pela instalação, sobretudo de olhos fechados, é possível perceber os sons de maneira escultural, tridimensional, como planejou a artista.

Ouça e veja a obra no vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=rZXBia5kuqY&feature=youtu.be

Bibliografia:

“Forty part motet” in Inhotim, [Online]. Consultado em 14/08/2018.
http://www.inhotim.org.br/inhotim/arte-contemporanea/obras/forty-part-motet/

“Forty Part Motet” in MoMA, [Online]. Consultado em 14/08/2018.
https://www.moma.org/collection/works/87291

“Janet Cardiff” in Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, [Online]. Consultado em 14/08/2018.
https://www.eba.ufmg.br/museologia/cardiff/index.html

“Janet Cardiff’s Forty Part Motet | TateShots” in Tate (Youtube), [Online]. Consultado em 14/08/2018.
https://www.youtube.com/watch?v=38ORiaia9r8

João Luiz Sampaio, “Música e silêncio numa tarde em Inhotim” in Estadão, [Online]. Consultado em 14/08/2018.
https://cultura.estadao.com.br/blogs/joao-luiz-sampaio/musica-e-silencio-numa-tarde-em-inhotim/

“One Collective Breath: Janet Cardiff’s ‘The Forty Part Motet’” in KQED Arts (Youtube), [Online]. Consultado em 14/08/2018.
https://www.youtube.com/watch?v=rZXBia5kuqY&feature=youtu.be

 “The Forty part motet” in Cardiff Miller , [Online]. Consultado em 14/08/2018.
https://www.cardiffmiller.com/artworks/inst/motet.html

Fontes das imagens:

Imagens da autora.

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