Fabrini Crisci, O impossível do possível, acrílico sobre tela, 70x50cm, 2018.
Fabrini Crisci, além de artista visual, é um mágico que se apresenta no mundo inteiro, e esse seu outro lado criativo é extremamente presente em suas pinturas, quase todas elas entre o lúdico, o misterioso e fantástico inerentes ao universo do circo.
Aqui, vemos uma acrobata com muitas pernas movidas por intricadas engrenagens. A inspiração para a obra veio exatamente de uma artista que faz parte do mesmo espetáculo que ele no famosíssimo Circus Roncalli, Quincy Azzario, uma handstand artist – handstand sendo o equivalente em português à parada de mão -, ou seja, ela realiza diversas acrobacias equilibrando-se sobre as mãos e frequentemente sobre somente uma das mãos! Notem a curiosidade interessante de que a pintura acabou de ser realizada, em plena turnê do circo pela Áustria, sendo essa produção rápida, em apenas alguns dias, em meio a apresentações, prática recorrente do processo criativo do artista.
Quincy Azzario
A ideia de Fabrini foi mostrar o ser humano como simples engrenagens equilibrando-se fragilmente entre a vida e a morte. Nesse caso, o caracol combinado à caveira, em claro memento mori – do latim, “lembre-se que irá morrer” – representa para o artista a morte que se aproxima, lenta, mas certamente. As flores, apesar de efêmeras, parecem evocar a beleza da vida, enquanto o céu cinzento nos lembra seu final.
Já as engrenagens, ligadas ao steampunk, são elementos pelo qual o artista sempre foi fascinado e estão presentes em alguns de seus trabalhos, inclusive performances de circo. O mecanismo combinado às muitas pernas da mulher, que parecem ponteiros, lembra as engrenagens dos relógios antigos e, consequentemente, a passagem do tempo.
Fabrini Crisci, Magic Robot (Robô Mágico) ou Manipulador, 44x60cm.
Fabrini Crisci, Leçon de Chant (Lição de Canto), acrílico sobre tela, 50x80cm.
Fabrini Crisci, Ilusão 1, acrílico sobre tela, 50x80cm.
O artista na performance Oxi e o realejo. Foto Ann-Kathrin Brocks
Oxi
Sobre a figura central da composição, a contorcionista vermelha, é interessante notar que pequeninas personagens dessa cor, muitas vezes de aura diabólica, e perninhas sensuais também aparecem com frequência nas pinturas do artista. A cor vermelha é predominante em sua criação, não deixando de lembrar as cortinas vermelhas dos palcos.
Fabrini Crisci, Memories (Memórias), óleo sobre tela, 50x60cm.
Fabrini Crisci, Ada.
Fabrini Crisci, Poltrona.
Finalmente, o fundo é esteticamente equilibrado através das nuvens cinzentas que vêm do canto inferior esquerdo da composição em contraste com o céu azul preenchido com as pernas vermelhas do outro lado.
Todos esses elementos contribuem para uma composição bela, porém de uma estranheza desconfortante, bastante adequada ao tema do equilíbrio entre a vida e a morte.
Assista abaixo um vídeo com parte do processo criativo da obra:
Fontes:
Entrevista com o artista.
Fonte das imagens:
Acervo do artista.
Ann-Kathrin Brocks – https://www.facebook.com/annkathrin.brocks
Perfeita descrição. Fez jus ao autor. Vivi um momento desses com um professor de física. Amanhã estava assim…ele tinha uma tristeza de morte. Fabrini Crisci, traduz na sua obra esses sentimentos torturantes. Sim, mesmo vivos, por alguma razão agonizamos.Observei que as flores silvestres, não morrem. Em qualquer solo elas, lá estão. vou compartilhar…
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Eu sou tão leigo que acabo perdendo como compreender e entender os detalhes.
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