Sempre gostei de pianos, suas notas fortes, determinadas, sua grande estrutura, imponente.
Talvez seja por isso que me encantei tanto com a obra ‘Concerto’ de José Spaniol na DAN galeria, em São Paulo.


A figura do piano sendo elevada por bambus paralisava a todos que passavam por ali, como se a estrutura arquitetônica exaltasse a obra, assim como as pinturas murais nas cúpulas das igrejas ou tetos dos palácios.
Conversando com o artista, ele nota que muitas pessoas não se aproximam muito da obra, como foi o meu caso. Apesar de estável, ela parece poder entrar em colapso a qualquer momento, o que causa certo temor a quem a vê.
Outra característica interessante é como o piano no alto passa a ter sua materialidade alterada, fica menor, se perde no espaço e “começa a ocupar o lugar do improvável” (Spaniol). Na minha visão, isso se assemelha muito aos concertos, onde admiramos a certa distância, tornando instrumento e artista um só, perdendo assim a solidez de sua estrutura para a morbidez da música, que, a sua forma, também toca os espectadores, trazendo sempre incerteza do que vem a seguir. Será que essa obra irá ruir?
É interessante lembrarmos que este trabalho é um desdobramento dos barcos escorados exposto pelo artista em 2016, na Pinacoteca, onde a sonoridade fazia parte de sua criação, ligando arquitetura e objeto. Com o piano, a obra é silenciosa, mas o instrumento musical trás por si só música à criação.

Por último, podemos perceber que os bambus remetem as construções de pau a pique do interior brasileiro, trazendo mais uma vez a arquitetura à obra.
Referências: Entrevista com o artista José Spaniol.
Fontes das imagens:
Ana Pigosso / DAN Contemporâneo Galeria
https://www.jspaniol.com
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