“A loucura de Kate” (1806), Henry Fuseli
Onde ele está? Se você sabe, por favor, me conte! Disseram que morreu tragado pelas águas deste mar silencioso, que todos os dias insulto e para quem direciono minhas súplicas, mas não acredito. Não pode ser. Aquela carne quente, aquele sorriso limpo, aquele olhar de ternura, eles não podem estar no fundo deste local impregnado de gelo e de solidão. Quando ele embarcou, a minha fantasia foi junto, cavalgando a espuma das ondas, em busca da tranquilidade da terra firme, mas ele não volta, e o meu sonho trafega por este mar de insanidade sem encontrar porto seguro, sem encontrar sossego. Não é justo que a Morte se delicie com a vida do homem que amei, sorvendo o tutano que lhe animava com a alegria de uma carniceira. Não é justo que eu seja a mulher que espere, a que ficou para trás, a que perdeu o sentido. Ficarei aqui, sentada nesta pedra, dia e noite, até que as águas cansem do meu choro e devolvam o meu amor. Serei o farol a guiá-lo no meio da noite eterna. Investigarei as brumas da manhã sonolenta e devassarei os rumorejares da noite, esperando ver a silhueta tão amada, antes que ela desapareça de vez da minha memória. Ele vai voltar, eu sei que vai: não trocarei de roupa – ele amava esse vestido – e comerei os restos com os cães até que o meu amor volte. Não se preocupe, não estou louca – sou a única pessoa sã em um mundo de gente perdida, pois sei que, assim como Orfeu, trarei meu amado de volta para os braços e, quando ele chegar, irá me abraçar, me beijar e dizer o quanto sentiu saudade. Olhe para mim e confesse: você nunca perdeu algo que não podia ter perdido? Você não consegue se reconhecer no meu desespero?
Fonte da imagem:
Artrianon 