OBRA DE ARTE DA SEMANA: “Não estamos todos no mesmo barco” de Banksy


Banksy, We’re Not All in the Same Boat (Não estamos todos no mesmo barco), estêncil sobre muro em Calais, França, 2015.

“Algumas pessoas se tornam policiais porque querem tornar o mundo um lugar melhor. Algumas pessoas se tornam vândalos porque querem tornar o mundo um lugar de melhor aparência.

– Banksy (Wall and Piece) Wall and Piece (Muro e Peça) é uma clara referência à obra literária Guerra e Paz.

Banksy é um dos maiores nomes da street art mundial e também considerado um dos artistas visuais mais importantes em atividade atualmente. Isso se deve não à sua técnica, mas sim aos seus temas e suportes. Não raramente surgem debates acalorados a respeito do grafite e da pichação, e um dos primeiros nomes que surgem na discussão é o de Banksy para corroborar com a importância do grafite para as artes.

Uma de suas características principais é o uso de estêncil e da apropriação de algumas obras de arte para trazê-las para o contexto urbano, e é isso que o artista faz com a obra We’re Not All in the Same Boat (Não estamos todos no mesmo barco), claramente uma contestação, quase provocação, para o argumento que todos nós sofremos do mesmo modo com os problemas sociais, com nossos governantes, com nossa corrupção etc. Mas principalmente, uma referência clara à resistência que alguns países europeus tiveram ao receber refugiados do Oriente Médio.

Para compor a obra, Banksy apropriou-se da imagem de uma das pinturas mais conhecidas da História da arte, A balsa da Medusa de Théodore Géricault, da qual já falamos aqui no Obra de Arte da Semana. O artista transformou a silhueta dos náufragos, da balsa e ainda utilizou um estêncil de um barco de luxo, um iate em menor escala para trabalhar com a perspectiva. Outro recurso foi o uso da separação do concreto da parede como linha do horizonte, e, aproveitando que a parte inferior do muro era mais escura, criou a sensação de que alguns dos personagens estavam se afogando.

Não é possível afirmar o grau de pesquisa de Banksy na escolha da obra, mas podemos afirmar que A balsa da Medusa foi uma tentativa de Géricault denunciar a corrupção no regime monarquista que volta ao trono após a queda de Napoleão. A tripulação naufragada representava o povo. Abaixo da bandeira, um dos personagens segura um dos corpos com a expressão de consternação e representa a fome (na época abordou o caso de canibalismo).

Por fim, essas figuras pedem socorro ao luxuoso barco e podemos interpretar que a intenção de Banksy foi o de realizar uma releitura desta obra, pois justamente o povo continua a ter esperanças de que governantes, instituições, empresas e as famílias mais ricas ainda serão a salvação do povo. De certo modo, esse pensamento justifica a ironia com a qual Banksy trabalhou o tema.

Fonte da imagem:

http://www.widewalls.ch/banksy-steve-jobs-calais/

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