Damien Hirst, The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living (A Impossibilidade Física da Morte na Mente de Alguém Vivo), vidro, aço pintado, silicone, monofilamento, tubarão e solução de formaldeído, 217 x 542 x 180 cm, 1991. Coleção particular.
O título dessa obra que certamente deixa o espectador intrigado à primeira vista – The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living (A Impossibilidade Física da Morte na Mente de Alguém Vivo) – já indica sua conexão com a morte, um dos temas de predileção do artista, e, para ele, esse longo título é simplesmente a definição do conceito morte em sua mente. Já falamos, inclusive, aqui na coluna, de uma de suas obras mais icônicas relacionadas ao tema: uma caveira cravejada de diamantes (link).
Em A Impossibilidade Física da Morte na Mente de Alguém Vivo, da série Natural History (História Natural), o artista colocou um tubarão tigre de quatro metros imerso em formol dentro de uma caixa de vidro, para que ele parecesse vivo, como em um aquário – o vidro sendo outro material pelo qual Hirst já afirmou ser um de seus preferidos, pois é, ao mesmo tempo, sólido e transparente, efêmero, e proporciona simultaneamente proximidade e distância. Além disso, quando circulando em volta de um tanque de vidro, as figuras dentro dele, mesmo mortas, parecem ter movimento, devido aos seus ângulos.
A obra foi pensada quando o artista ainda estava na universidade, e, alguns anos depois, conseguiu realiza-la com o patrocínio de Charles Saatchi – o nome Saatchi nos remetendo hoje à imensa plataforma de venda de obras de arte online iniciada pelo empresário.
O fato de o animal escolhido ser um tubarão foi, segundo o criador, devido à natureza inatamente assustadora e quase monstruosa do animal. Entretanto, Luke White, em um interessantíssimo artigo sobre o tubarão, o capitalismo e o sublime, indica que, na verdade, até a Idade Média, o animal era chamado de “cão do mar”, em diversos idiomas, e, portanto, não possuía o caráter monstruoso que o denota hoje, o de um monstro voraz que devora tudo e todos que se encontram em seu caminho. O mais interessante, é que o pesquisador liga a figura do tubarão ao capitalismo, e, assim, é curioso notar que o primeiro de muitos animais em formol escolhido por Hirst foi um tubarão. Atualmente, o artista é um dos mais valiosos do mundo graças, além de algumas obras geniais, ao seu talento de marqueteiro, entretanto, é bastante criticado o fato de obras interessantes como a que discutimos hoje, ser repetida muitas vezes e seu atelier ser composto de vários assistentes que fazem seu trabalho, sendo assim, uma verdadeira fábrica capitalista de obras de arte.
De qualquer maneira, o fato é que a figura do tubarão no imaginário contemporâneo corresponde ao sublime, conceito filosófico do século XVIII que denomina algo belo, grandioso e apavorante ao mesmo tempo, por exemplo, uma paisagem de montanhas repletas de neve, que lembram a pequenez do ser humano. O conceito foi muito empregado em arte na época e foi revisitado por vários artistas contemporâneos. Assim, o tubarão representa a beleza e o apavorante existente na natureza; a morte tendo esse mesmo fascínio e inexorabilidade assustadores. Ou seja, o tubarão que parece vivo, é uma imagem da morte, da qual nenhum de nós escapará.
Bibliografia:
Susie HODGE, Breve história da arte, São Paulo, Editora Gustavo Gili, 2018. Trad. Maria Luisa de Abreu Lima Paz.
Denys RIOUT, Qu’est-ce que l’art moderne?, Paris, Gallimard, 2000.
Links:
Luke WHITE, “Damien Hirst’s Shark: Nature, Capitalism and the Sublime” in Tate, [Online]. Consultado em 14/01/2019.
https://www.tate.org.uk/art/research-publications/the-sublime/luke-white-damien-hirsts-shark-nature-capitalism-and-the-sublime-r1136828
“The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living” in Damien Hirst, [Online]. Consultado em 14/01/2019.
http://www.damienhirst.com/the-physical-impossibility-of
Hans-Ulrich OBRIST, Damien HIRST, “An Interview” in Damien Hirst, [Online]. Consultado em 14/01/2019.
http://www.damienhirst.com/texts/20071/feb–huo
Fonte das imagens: